segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nota mental: não ultrapassar os 10,5.


Por Carlos Gabriel F.

Olhei para a pilha de livros que casualmente deixo acumular com o tempo – culpem a universidade, professores e sujeitos adjacentes que me desmerecem de momentos agradáveis de leitura em que não fico pensando nas outras tarefas acadêmicas que deveria estar exercendo –, resolvi folhear um novo, emprestado recentemente por um caro em especial. Mentalizei minha necessidade, analisei o contexto meteorológico – atire a primeira pedra quem não avalia livros pelo clima! – e pensei naquilo que seria inovador. “Qual seu número?” se distinguiu entre todos os demais com sua áurea romancista e foi, então, o escolhido. 

Uma brochura do gênero nunca havia me passado pelas mãos; histórias de amor o máximo que havia lido era o relacionamento vampiresco e obscuro de Lestat de Lioncourt e Louis de Pointe du Lac. O resultado após as dez primeiras páginas foi de amor instantâneo: gostei de como Karyn Bosnak traça a trajetória de sua personagem sem presunção, revelando histórias inovadoras e que nos fazem esboçar sorrisos nos lábios. Para o recesso prolongado que acontece aqui no Brasil, imergido em um frio bom e de céu nublado, era tudo que eu precisava. 

Comecemos com o hilário-histórico-narrativo: Delilah Darling beira os seus trinta anos e já fez sexo com dezenove caras (sim!) – quando a média para mulheres normais beira os 10,5, como bem aponta um  estudo de um tablóide americano; e complementam: quem está acima deste número não seria possível encontrar uma pessoa certa. Desesperada (e vagabunda), Delilah vê-se na necessidade de se auto-impor um limite: vinte, vinte caras seria o máximo ou entraria para o celibato. “Eu olho para ela. Pobre anjo, discriminada por todas as cadelas mais novas, mantida presa no porão porque ela é mais velha do que todos os outros filhotes da loja. Telepaticamente, eu digo a ela que a entendo. Eu me senti do mesmo jeito depois que Rod e eu paramos de nos ver. Eu também era mais velha do que todas as cadelas disponíveis, e a competição havia ficado dura demais. (...) ‘Várias pessoas brincam com ela, mas ninguém assume o compromisso?’ Novamente, eu digo a ela por telepatia que entendo como ela se sente. Quando pisca os olhinhos pra mim de novo, sinto como se estivesse me olhando no espelho. Se houvesse um universo paralelo habitado por cachorros, então essa pequena yorkshire seria uma versão de mim”.

Delilah, com um emprego digno, é então despedida. E, para garantir sua infelicidade mergulhada nas margueritas, vê-se no dia seguinte deitada na cama do homem mais imprevisível e nojento da cidade. Desesperada, a mulher se encontra diante o improvável: havia alcançado o limite. Em uma solução encontrada desesperadamente, Delilah conclui que deve “voltar” no tempo e visitar cada homem que foi para cama. É aqui que começa a viagem de redenção: a personagem passa por cada canto do país em busca daquele uma vez fez parte de sua história, em uma tentativa de reatar um relacionamento que, porventura, não se ramificou para o presente. Com várias metáforas e referências culturais, Karyn consegue prender o leitor com seu modo crítico e cômico de narrativa. Delilah nos conta do seu passado e nos diverte com suas histórias improváveis, fazendo-nos refletir sobre nossos laços afetivos e como agimos nas mais diferentes circunstâncias.

“É engraçado perceber a velocidade com que as coisas podem mudar. Sentimentos, não importa o quanto sejam intensos, podem ser efêmeros. Em um estalar de dos, a felicidade pode se transformar em tristeza; a esperança pode se transformar em desespero; e, um belo dia, o passado chega para causar assombro, e faz com que se perceba que é preciso pisar no freio.”

P.s.: o livro já foi adaptado aos cinemas, mas ainda não tive a oportunidade de conferir.

sábado, 28 de abril de 2012

Reunindo leitores.

por Arthur Franco

Um dos grandes trunfos da internet são as redes sociais. Certamente você já dedicou dias ao Orkut e hoje em dia passa grande parte do seu dia checando as atualizações do Facebook. Essas redes são uma poderosa ferramenta, uma vez que aproximam usuários com interesses semelhantes e permite o contato entre pessoas de diferentes localidades. E a cada dia surgem novas formas de conectar os internautas.

E os amantes dos livros não ficam de fora dessa nova forma de interação. Já existem redes específicas destinadas a reunir aqueles que têm a literatura como paixão e estão sempre com uma brochura debaixo do braço. Separei três que fazem sucesso entre os leitores. Apesar das  particularidades de cada uma, todas são parecidas entre si, agregando usuários com o mesmo gosto e permitindo a avaliação das obras.

A primeira é o Skoob, uma rede social brasileira que já possui mais de 420 mil usuários cadastrados. Nela é possível dizer o que você está lendo, o que quer ler, escrever críticas e resenhas sobre obras e interagir com outros usuários. Uma das funcionalidades mais legais do Skoob é a possibilidade de adicionar tags como “abandonei” ou “relendo” nos livros da sua estante virtual.

O LibraryThing é uma rede mais completa. Com um número mais de obras, a rede é tão famosa que já possui mais de um milhão e meio de usuários e é utilizada por algumas bibliotecas dos Estados Unidos como catálogo de acervo. Na modalidade gratuita você pode catalogar até 200 livros na sua conta. O legal é que ela permite que você pesquise em quase 700 livrarias ao redor do mundo e até mesmo na Livraria do Congresso Americano.

Já no O Livreiro é possível ler mais de 10 mil livros online de graça. A rede, também brasileira, se define como “um ponto de encontro para a troca de ideias com amigos e para conhecer pessoas, escritores e obras, fazer novas amizades, debater assuntos divertidos e interessantes e inspirar-se, fazendo uma viagem pelo mundo literário”. O site está em Beta, então é possível dar a sua opinião sobre o que você queria ver na rede social e sugerir mudanças. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Apresentação da necessidade translúcida de Jimmy Corrigan.

Por Carlos Gabriel F.

Destes dias atrás, enquanto andava pelo shopping com certa descontração de procura insaciável para se fazer algo em tempo ocioso absoluto, parei em uma livraria – como de usual: porque me parece que meus passos, espaçados de grande desavença, me levam diretamente para aquelas grandes lojas com brochuras operando enquanto paredes imaginárias de literatura – e, depois de tanto observar os mesmos livros da semana passada apenas dispostos em lugares descontraídos de desigualdade, parei-me no nicho dos quadrinhos. E confesso-vos: entrei em um colapso nervoso de tamanho amor e necessidade física de levar todos para casa. Não fui criança de revisar os jornais em busca de quadros históricos sobre narrações concisas, cômicas e sagazes de assuntos políticos; estes desenhos perpassaram minha vida em momentos importunos de desapego. A verdade é que nunca havia me interessado, de fato, pelos discursos imagéticos e pelas falas em balões redondos de bravura.

Mudei-me por inteiro, em ideologia e subjetividade, ao pegar em mãos “Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo” (2000) de Chris Ware. Soube que os quadrinhos do autor são um dos mais prestigiados na invenção das HQs – pergunto-me em lucidez: como eu não soube disso antes?. O que narro aqui são expectativas diante um fato consumado: os seus desenhos me remetem a um passado nostálgico de minimalismo incrível, inspirados nas ilustrações americanas do final do século XX, em que a combinação cronológica pode ser feita de formas invariáveis – seja pela disposição dos quadros ou pela forma que a história é contada aos leitores. O protagonista deste conto é Jimmy Corrigan: tímido e solitário homem de meia-idade, que recebe do pai, até então desconhecido, uma carta para um encontro de finalmentes. Sua reunião com a família resulta em uma sequência de momentos constrangedores e claustrofóbicos que não permitem a aproximação sentimental entre quaisquer personagens que sejam. 



Chris Ware expõe nas páginas da obra a sua própria história. Também filho de um pai desconhecido, o autor foi contatado pelo pai enquanto escrevia e desenhava o texto. É o retrato de uma vida com tentativas de enlaçamento e vínculos – que perduraram no infinito dos cosmos e não deram certo. “Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo” é a fuga de um mundo acre e amargo, marcado por uma timidez, narrado por uma poesia bela em busca de redenção e perdão. 

Por favor: ler uma parte, apaixonar-se e me presentear o quanto antes.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Os jogos do mesmo roteiro.


por Arthur Franco 

Depois de ler o review do filme de Jogos Vorazes aqui no Dois Leitores, fiquei na curiosidade de saber se o livro seguia a mesma linha. Depois de sair do cinema, não deu outra: passei na livraria e já levei o volume I para casa e em um final de semana já tinha devorado o livro.

A história escrita por Suzanne Collins relata a vida de Katniss Everdeen, tão bem contada no longa metragem. Atrevo-me a dizer o que o filme é um das produções baseadas em um livro mais bem adaptadas que eu já vi.

Pois bem, no livro encontramos a maioria dos elementos presentes no filme. O mundo pós-apocalíptico, com um governo totalitário, em que todos os anos 24 jovens são escolhidos para lutar até a morte. A arena onde eles são confinados (bem no estilo pão e circo), com todos os seus perigos e armadilhas. O Capitólio, que usa os então chamados Jogos da Fome (na tradução de Portugal) para controlar e se manter no poder. A protagonista Katniss Everdeen, que se oferece para substituir a irmã mais nova nos jogos e tenta sobrepor seu lado humano à sede de sangue do Capitólio. Seu companheiro de distrito Peeta Mellark, também obrigado a lutar nos jogos e matar os seus adversários para deleite da população, que acompanha avidamente os jogos.


O enredo é bem estruturado. Não existem pontas soltas e nem casos (ainda) não resolvidos. Certa vez li que a autora teve a idéia da trilogia baseado-se em reality shows e guerras, fez uma combinação das duas imagens e concebeu The Hunger Games (THG). Entretanto, preciso pontuar duas “pulgas atrás da orelha” que me chamaram a atenção quando li o primeiro volume da série.

A primeira se chama Battle Royale. Esse é um livro, escrito em 1999 e transformado em filme em 2000, que tem muitos pontos em comum com o enredo de The Hunger Games. A história se passa no Japão, em um futuro próximo, no qual as crianças rebeldes são mandadas a uma ilha para matarem umas as outras, até que sobre apenas uma. Como o primeiro volume de THG foi lançado apenas em 2008, sinto que a autora pode ter tido uma pitada de ajuda na criação do enredo se baseando em Battle Royale.

A segunda desconfiança tem como fundamento a série de livros Feios, de Scott Westerfeld. O livro já ganhou um review aqui, mas tem como pano de fundo algumas questões de THG. Em Feios, temos uma sociedade pós-apocalíptica (!), regida por um governo totalitário (!!), em que uma heroína (!!!) tentar ir contra o sistema. Temos aqui a semelhança do cenário, da investida contra o governo totalitário, da descoberta de algo muito maior por trás da sociedade em que os protagonistas vivem. Reconheço que as coincidências param por aí, mas como o primeiro volume de Feios foi lançado em 2005, Suzanne Collins também pode ter se baseado (mesmo que pouco) nessa série para desenvolver THG.

Mesmo que o enredo possa não ser assim tão original, o livro tem seus pontos fortes. A história se desenvolve de forma rápida, em que logo queremos virar a página para descobrir o que acontece em seguida. É tudo muito bem estruturado, bem amarrado e as cenas de ação têm boas descrições. Mas também existem os pontos fracos. O principal é no quesito linguagem. Katniss é a narradora do livro, descrevendo tudo em primeira pessoa. As suas descrições, porém, são todas no presente. Esse foi um dos únicos (se não o único) livro que eu li em que tudo é descrito no momento em que ocorre. Isso pode tornar a leitura estranha e um pouco desgastante para aqueles que não estão habituados (assim como eu). Outro ponto fraco são as descrições. Curtas e diretas, sem muitos elementos para que o leitor entenda com todos os detalhes as cenas. Entretanto, aí entra o papel fundamental de todo leitor: utilizar a imaginação para compor a história dentro de sua cabeça.  

domingo, 22 de abril de 2012

“Ter com o amor (um pouco)/ Mais de cautela/ Do que com tudo”

Por Carlos Gabriel F.

Pega esse teu chocolate quente, aproveita o clima frio lá fora e busca lá na estante, velhinha de tantas brochuras memoráveis, um dos seus livros favoritos, daqueles que narram uma realidade alternativa e que te fazem querer colocar em prática a história da autora. Que façamos viagens experimentais até países de diferentes expectativas; que nos façam experimentar culturas tão interessantes; que nos cative pelo diálogo exuberante através das mais diferentes pessoas, olhares e emoções; que nos leve na mais verdadeira sensação duradoura de que a mudança é possível, seja por meio da degustação de uma boa bolonhesa, da nervosa reza em suplica necessária por salvação diária ou pelo batimento acelerado do coração diante uma paixão inesperada. Relembre o gostinho inovador de “Comer, Rezar e Amar” porque eu quero falar da sua continuação “Comprometida: uma história de amor”. 



A adaptação do primeiro livro de Elizabeth Gilbert para as telas do cinema em 2010 foi um sucesso. A sua continuação nas brochuras, publicado no mesmo ano, não é tão conhecida, entretanto. Ao perguntar para colegas se já haviam lido “o depois” no segundo livro, negam-me com a cabeça em veemência e alegam, por vezes, que nem haviam realizado o conhecimento desta tal prolongação. Pois bem, que seja apresentado: “Comprometida” é o devaneio em voz alta de Elizabeth, entremeada de borrões de xícaras de chá e muitos drinks, tratando de diversos assuntos entrelaçados ao matrimônio. 

O livro é amavelmente dividido entre oito capítulos anacrônicos, que retratam os diferentes aspectos do casamento: suas surpresas, expectativas, histórias, paixões, subversões. Gilbert, ainda em paixão com suas viagens, descobertas culturais e o brasileiro Felipe, busca representar nas suas páginas a aceitação perante algo tão grandioso como este contrato de união. Liz atravessa as mais diferentes culturas, indo da Grécia Antiga até a Ásia, para absorver a si a verdadeira essência do relacionamento. Sua narração é antes de tudo uma súplica desesperada pela aceitação do enlaçamento entre duas pessoas. “Mas não há dúvida de que algo também se perdeu nos nossos lares modernos, fechados e privadíssimos. Observar a interação das mulheres hmong me fez pensar que a evolução da família ocidental, cada vez menor e mais nuclear, pode ter exercido uma pressão específica sobre os casamentos modernos.”

“Comprometida” é um ensaio sentimental de Liz sobre perguntas triviais acerca do casamento; questionamentos estes que circundam a maioria das pessoas e causam alguns tormentos no simples ato de responder “sim” – mas  palavra esta que é preenchida de tantos significados e responsabilidades. “Comprometida” é, sobretudo, a transfiguração de um rito de passagem recorrente a todos relacionamentos.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Novidades na estante.


Por Arthur Franco

O Santo Sudário talvez seja a relíquia mais enigmática e misteriosa do cristianismo.  A peça de linho com o rosto de um homem é alvo investigação por parte de muitos cientistas e muito já se foi falado sobre a veracidade do artefato. Esse é o tema do livro O Sinal: O Santo Sudário e o Segredo da Ressurreição, de Thomas De Wesselow. Depois de anos de pesquisas, análises, conversas com cientistas e estudo dos Evangelhos, o historiador da arte lança um livro que procura entender porque as pessoas acreditavam em Jesus e qual foi o papel do Santo Sudário nesse processo. Thomas leva o leitor em uma viagem pela história da religião e revela uma informação espantosa sobre a ressurreição de Jesus Cristo.

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 512
Tradutores: Denise Bottmann, Donaldson M. Garschagen e Berilo Vargas

Depois do sucesso de Ágape, o Padre Marcelo Rossi vem com outro lançamento que pretende ter o mesmo sucesso do anterior. Agapinho: Ágape Para Crianças é uma obra que procura desenvolver o gosto pela leitura nas crianças, ao mesmo tempo em que trata de questões cristãs, como bondade, perdão, confiança e justiça. Com trechos dos Evangelhos, o autor segue na mesma linha de Ágape, que atingiu a marca de 7,6 milhões de exemplares vendidos, e busca  desenvolver o sentido de fé e oração nas crianças, colocando no final de cada capítulo uma oração direcionada aos pequeninos.

Editora: Globo
Páginas: 88

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Da caneta para a tevê.


Por Carlos Gabriel F.

Além das prolongações do cinema, da adaptação pelicular de no máximo duas horas de duração, o regozijo transcendental é maravilhoso, de ter a vislumbração em cores e ao vivo daquilo que se imaginara tanto nos quesitos literários. Que não me retire dos lábios que digo que um mero baseamento será melhor do que a brochura, mas o meu postulado é o de que a transcrição seriada das nossas imaginações na televisão, por vezes, é fantástica – não lembremos das diferenciações tão faladas neste blog e as expectativas não cumpridas, por favor.

Pois bem, viraram séries: 

Diários do Vampiro”, de autoria de L. J. Smith, ainda continua a aumentar a sua numerosa coleção com histórias ainda a serem contadas – assim como a televisiva, que já contabiliza três temporadas. A escrita da autora é doce e romântica, entremeada de fatores fantasiosos e vampirescos. “O Despertar”, primeiro da série, possui suas primeiras peripécias lançadas no ano de 1991 e vem a dar suas graças de publicações adjacentes até o ano de 1992, em que teve o seu final (provisório) com “Reunião Sombria”. Com a adaptação para o canal estadunidense CW, em 2009, a autora voltou com o “Anoitecer” – para o agrado dos fãs ávidos por novas imaginações. A densa trama circunda a vida de Elena Gilbert e seu conturbado relacionamento com os irmãos Salvatores, de modo a gerar daí a maior parte do desenvolvimento da trama.

A coleção de Jeff Lindsay, “Dexter”, também foi adaptada às tevês. O primeiro dos seis já publicados, “Dexter: A Mão de Deus”, de 2004, deu início ao personagem que por vezes tanto adoramos e idolatramos. Morgan é um educado vestido de lobo, como bem dizem; em Miami, o seu papel social é ser perito da polícia; o seu papel moral é matar aqueles prejudiciais aos indivíduos (como si mesmo), ser um serial killer. A drama acompanha o personagem e sua tentativa de “humanização”, suas escolhas e loucuras mentais. A série televisiva é transmitida pelo canal Showtime. 



Quase um “Gossip Girl” só que com mais aventura e ação: estas são as “Pretty Little Liars” de Sara Shepard. A série conta dez livros publicados, sendo o primeiro “Maldosas”, de 2006. As brochuras tratam da história de Spencer, Aria, Emily, e Hanna envoltas dos segredos mantidos e distribuídos por sua amiga, agora desaparecida misteriosamente, Alison. As meninas veem-se em perigo quando começam a receber mensagens de texto assinadas por “A”, onde este grande mistério da série é desenvolvido de forma sagaz e interessante, a fim de prender o leitor nas páginas da brochura infanto-juvenil. A transmissão das temporadas pela ABC Family desde 2010. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

À espera da felicidade.


Por Arthur Franco

“A Sra Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores”. É com essa, singela e aparentemente indefesa frase, que Virginia Woolf começa um dos seus mais famosos trabalhos: Mrs. Dalloway.


Mas quem é Mrs. Dalloway? Clarissa Dalloway é uma mulher já de meia idade, vivida, decidida e feliz que se prepara para dar uma festa em sua casa. Ela tenta se concentrar nas atividades que fazem parte dessa ocasião: comprar flores, preparar o que será servido, arrumar a casa. Mas são nessas atividades cotidianas que a mente da personagem perde-se e ela envolve-se em lembranças e pensamentos sobre o passado, sobre as escolhas que vem e como a vida poderia ter sido diferente.

O leitor é levado para dentro da mente de Clarissa, revolvendo o seu passado e tomando forma das suas emoções. Conhecemos a sua juventude, a candura, a simplicidade e inocência de um beijo; entendemos os seus amores passados, e como as emoções de outrora teimam em vir à tona quando ela reencontra convivas de antigamente; participamos dos dramas que podem parecer demais dentro da cabeça de Clarissa, mas que no fundo reconhecemos em todos nós.

Ela representa os momentos decisivos da vida, aqueles que pensamos como levamos a nossa existência, no que fizemos no passado. Ela representa a felicidade, o momento presente e o desejo constante de mudança do ser humano. Mas, sobretudo, apesar de todas as desilusões, as inseguranças, ela consegue encontrar a felicidade, mesmo que seja por alguns breves instantes. E é como acontece fora dos livros. A felicidade vem acanhada, nos momentos inesperados e nos acontecimentos triviais. É como escreve Virginia em um trecho: “Tinha parecido o começo da felicidade, e Clarissa ainda se choca, trinta anos depois, quando percebe que era a felicidade: que a experiência toda repousa num beijo e num passeio, na expectativa de um jantar e de um livro”.

Mrs. Dalloway é um romance escrito por uma mulher que vivia com uma intensidade exacerbada e uma profunda melancolia. É um daqueles livros com personagens reais, com pessoas iguais a mim ou a você, que tem alegrias, felicidades e conquistas, mas também decepções, mágoas e angústias.  Mas que no fim, descobrem que são esses sentimentos, essas trivialidades, que os fazem humanos. 

sábado, 14 de abril de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte VI.


Por Carlos Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Confira a parte I, II, III, IV e V! que comecemos):

A Hora da Estrela” (1977) provavelmente é o livro mais lido-conhecido-citado de Clarice Lispector,  sim?! E, porventura, também o meu primeiro e um dos favoritos. O modo como a autora começa o seu capítulo, explodindo-se em si em uma última busca frenética de representação subjetiva em folhas sujas de nanquim com sentimentalismo exacerbado, é magnífico. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se na pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se a história não existe, passará a existir. Lispector traça a bela imagem de Macabéa, vívida no Rio de Janeiro,  em que aos olhos da introspecção do narrador (aqui tratado como Rodrigo S.M. – pseudônimo utilizado a priori pela autora) se torna algo grandioso, indeciso e volumoso. Encontramo-nos com romances ao longo do caminho e incertezas que circundam não apenas a nossa protagonista, mas também nós, que nos vemos mais uma vez representados em uma grande obra. 

“Será há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um reconheça em si mesmo porque todos nós somos um (...)”

Falemos de clássicos por um momento oportuno de felicidade? Nessa Era cibernética de queda superestimada da valorização do papel, quem tem dinheiro para livros redundantemente caros é rei. É nesse contexto de extrema indelicadeza monetária que procuro aproveitar todas as promoções possíveis: “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel” (1954), do aplaudido J. R. R. Tolkien, não ficou de fora. O livro retrata um novo mundo, uma perspectiva tão bem criada – com diferentes dialetos e culturas excêntricas – que nos regozija enquanto literatura. No primeiro livro da trilogia, Frodo Baggins fica responsável, junto à seus companheiros, de destruir O anel no único lugar possível: nas lavas do vulcão de Mordor. 

“Não devemos nos questionar porque algumas coisas nos acontecem e, sim,  o que podemos fazer com o tempo que nos é dado.”


Depois de me apaixonar pela narrativa de José Saramago em “Ensaio sobre a Cegueira”, a vida me levaria aos poucos, aos tropeços e desvios necessários, para suas outras obras também de tamanha primazia. Recomendaram-me “A Caverna” (2001). Tenho por mim teoricamente que “A Caverna”, “Ensaio sobre a Cegueira” e, por fim, “Ensaio sobre a Lucidez” traçam, respectivamente, uma grande emersão em direção a luz – vislumbra-se, na primeira brochura, a narração de uma grande escuridão, em quesitos de conhecimento, que vai se dissipando, em intermediário com a cegueira,  até encontrar o verdadeiro fulgor na lucidez. “A Caverna”, pois bem, trata de um oleiro, um guarda e sua noiva fabricando louças artesanais que aos poucos vão sendo rejeitadas numa sociedade cada vez mais industrializada. A parábola social de Saramago aqui voa em direção à Platão para nos explicar a fluidez da contemporaneidade – com seus shoppings sem janelas e ar enlatado.

“‘Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros. São iguais a nós.’”

A Farsa” (2008) de Christopher Reich, primeiro de uma trilogia, é uma forma legal de se aventurar em um romance policial. O seu enredo, por vezes óbvio – o que não faz com que o livro deixe de ser original –, é entremeado de fatores que personificam um bom livro de ação: guerras, terrorismo, politicagem, traições e espionagem. A sua narrativa, intercalada entre a perspectiva de diferentes personagens, é constantemente marcada pelo extraordinário. São nos Alpes suíços que as histórias começam. Jonathan Ransom e sua esposa, Emma, praticavam seu esporte favorito quando são surpreendidos por uma avalanche. A mulher, ferida, morre com o acidente e faz do futuro do seu marido um verdadeiro baú de surpresas, em que cada passo tomado se é revelado um segredo. 

“Apesar da longa viagem, a borboleta ignorou as flores. Não buscou seu pólen de cheiro forte nem se deleitou com seu doce néctar. Em vez disso, decidiu voar mais alto (...)”

Na minha lista de livros cronologicamente lidos, “O Testamento” (2006) de Eric Van Lustbader encontra-se com primazia como o terceiro. Havia finalizado “O Código da Vinci” e procurava em desespero por algo que tivesse a mesma angulação retratada por Dan Brown. Lustbader bebe da mesma fonte que o autor, mas muitas das vezes de modo mais retraído, conciso e bonito. “O Testamento” retrata Braverman Shaw, que perde o pai em um brutal assassinato. Ainda ressentido pela perda, mesmo quando sua relação com seu progenitor não tenha sido exemplar ao longo das décadas, o personagem descobre que ele era membro alto escalão da Ordem dos Observantes Gnósticos e que tinha por principal função a proteção de escritos sagrados – entre eles o Testamento de Cristo. Nessa viagem de Lustbader, acompanhamos, frenéticos, a busca por entendimento de um filho que perdeu um pai distante. 

“Quando ele se virou, Dexter Shaw tomou o seu braço. Havia tanta coisa a dizer, tanta coisa a ser comunicada, e agora, na última hora, com sinos soando na cabeça, ele percebia que devia se sentir mais próximo do filho do que nunca.”

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Prepare-se para ficar sem fôlego.


Por Arthur Franco

Essa não é a primeira aparição de Tess Gerritsen aqui no blog. A Pecadora, terceiro romance da autora que tem a participação da Detetive Jane Rizzoli e a médica legista Maura Isles, já ganhou um review aqui

Volto agora com o quarto livro de Gerritsen com a presença de Rizzoli e Isles, publicado em 2004. Duplo Crime, assim como o seu antecessor, é um policial de cortar a respiração. O estilo da escrita da autora continua o mesmo: ágil, frenético e cativante. Os detalhes médicos são inúmeros e a profundidade das cenas e das histórias faz com que fiquemos sempre curiosos sobre o que vem na próxima página.

Dessa vez, um corpo achado na frente da casa da Drª. Isles dá início a uma investigação que ela nunca poderia imaginar. A morta é idêntica a ela: as duas compartilham o mesmo rosto, o mesmo cabelo negro, a mesma cor dos olhos. Maura, filha única, fica ainda mais espantada quando um exame de DNA confirma que as duas são irmãs. A investigação vai levá-la a tentar encontrar a mãe que a abandonou e a família biológica que nunca conheceu. Mas também vai revelar segredos assustadores e um passado que era melhor não conhecer.

Duplo Crime segue a mesma linha de A Pecadora. Segredos dentro de segredos durante todo o livro, reviravoltas e situações que dão vontade de nunca largar o livro. Atenção especial para os capítulos finais, como uma sequência que faz o leitor ficar sem fôlego. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Odorífero de excertos recentes.


Falemos sobre a nossa necessidade-quase-que-existencial de ter na estante novos livros para imergir em dias de histórias bem contadas e relatos de dias melhores.

Chega amanhã nas livrarias brasileiras o novo (e primeiro!) livro de Van Curtt (pseudônimo para o mineiro Dener Camilo), “Tabuleiro”. A brochura retrata um thriller psicológico em que vem a metaforizar o efeito causa e consequência na trama social em que hoje vivemos – onde o ato de apenas um sujeito respinga sobre uma gama desconhecidos “sociais”. A fábula romântica de Van Curtt narra preconceitos e figura ações que por vezes datamos como usual. No livro, um cidadão albino é acusado de matar uma série de sujeitos, incluindo uma mulher que o prejudicara com chacotas e sua primeira confidente. A sua incriminação refletirá na eleição governamental da época narrativa, de modo que a sua pequena ação, ainda não confirmada e muito das vezes estendida pela mídia, irá decair em um tabuleiro de jogos políticos, encobrindo disputas internas e vinculada à uma grande fome de vingança. 

Editora: Novo Século
Páginas: 536


Em noites drogues de insônia que Tony Judt escrevera seu último livro, “O Chalé da Memória”. Já no seu leito de morte, o historiador traçou, sem anseios ou desejos de publicação antecipada, um retrospecto ao seu passado glorioso, onde nos vemos-nos mais diversos continentes e experimentando uma imensa gama de perspectivas. Presenciamos uma Londres em período de pós-guerra, a vivência desilusória com a utopia de kibutzim e até a época de Maio de 68. O autor traça suas histórias ao longo dos tempos e as relaciona com as mais diversas correntes sócio-filosóficas, em que recorre ao marxismo, fascismo, sionismo para elucidar seus entendimentos. Como em um chalé reconfortante e imerso em afeto, Judt vivencia novamente sua conturbada história, traçada com política e aventuras. 

Editora: Objetiva
Páginas: 224
Tradutor: Celso Nogueira

domingo, 8 de abril de 2012

Um fantasma sublime.

Por Arthur Franco

Não é um livro em si, mas A Queda Da Casa De Usher, de Edgar Allan Poe, é um conto que tem conteúdo para ser uma obra literária completa. São tantas as metáforas e interpretações que podem se tirar da história que muitas vezes penso que o enredo, desenvolvido não mais do que em 20 e poucas páginas, é tão profundo quanto algumas obras que tem centenas de páginas. 

A trama em si é simples: um antigo amigo de Roderick Usher chega para visitá-lo e o descobre em um estado deplorável. A loucura, herdada da família, começa a tomar Roderick e conduz a sua irmã à morte. A trama tem um desenrolar inesperado, mas tudo culmina para o final, o que o título do livro já entrega: a queda da casa de Usher.


Edgar sabe escrever um conto de suspense e atormentado de sombras como quase nenhum outro escritor. Não existem sustos nem grandes tormentos, mas toda a sua perfeição se encontra nos detalhes, pretensiosamente descritos e cheios de significados. Nesse conto específico, encontramos a casa de Usher, que, entre as suas duas janelas frontais, detém uma rachadura, já símbolo da mente dividida de Roderick. E é essa dualidade que fará que o conto termine com o seu derradeiro final. O ambiente é sempre frio, opressivo, assim como a mente e a realidade dos personagens. A tristeza, oriunda de lugar algum, é onipresente, sem razão: “uma sensação de alguma coisa gelada, um abatimento, um aperto no coração, uma aridez irremediável de pensamento que nenhum estímulo da imaginação poderia elevar ao sublime.”
 
Roderick também não é aquele personagem ardente, que luta para a loucura não tomá-lo de vez. “Tez cadavérica, olhos grandes, transparentes, luminosos sem comparação; lábios um tanto finos e muito pálidos (...) cabelos que lembravam a maciez e a suavidade de uma teia de aranha.” Fora da realidade, longe da sanidade e sem perspectiva de melhora, vive do passado e da relação (misteriosa, doentia e incomum com a irmã, gêmea, diga-se de passagem). Tudo, desde o ambiente, passando pelo mobiliário da casa, até o passado e as atividades de Roderick culminam para que a melancolia seja o ponto principal da vida dos Usher. E tudo leva ao seu fim, ao seu desabamento, tudo colocado magistralmente no universo do fantástico pelo Sr. Edgar Allan Poe.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Páginas com páginas.

Por Carlos Gabriel F.

Conhecer a história de seu ídolo talvez seja uma das melhores narrações literárias que um bom leitor pode percorrer. Tragar o conhecimento daquele que, porventura, tenha realizado uma grande diferença em sua história enquanto crítico-conhecedor-de-palavras, seja por meio de suas músicas ou textos ficcionais, pode se tornar um grande prazer enquanto orgasmo cerebral. O fato é que biografias datam as histórias daqueles que mais glorificamos: os autores artísticos. 

Aqui datilografo a história dos que justificaram sua vinda ao plano terrestre. Suas cronologias, instigantes, são narrativas que aprisionam, retomam ao passado de uma forma anacrônica para nos submeter àquilo que mais desejamos conhecer: a sua mudança ao longo do tempo, os seus pensamentos induzidos e atos de bastidores. Com as biografias desejamos ter ciência daquilo que vemos registrado nas páginas do seu (in)consciente e representadas intertextualmente em suas obras.

Saramago: Biografia”, por sua vez, traz a história de um dos grandes leitores da era contemporânea (não me façam usar os verbos no passado, por favor). João Marques Lopes traça uma linda trama dos antecedentes de Saramago, desde o seu nascimento na Aldeia da Azinhaga, onde nos descobrimos diante as grandes referências presentes em seus livros. Lemos sobre seu avanço e sua já tardia iniciação na literatura, apenas aos 53 anos, mas de grande impacto social. Vemo-nos em 1998, quando Saramago ganha o Prêmio Nobel da Literatura e onde se torna o único escritor português a ser representado por sua nacionalidade. A brochura se torna referência para aqueles que desejam ter em mãos não apenas uma história marcante, mas também um toque de inspiração para sempre começar, que não é tarde.

Tarsila por Tarsila”: o resultado artístico de grandes entrevistas com familiares; baús, gavetas e caixas remexidos e trazidos ao presente para transmitir aquilo que a grande pintora brasileira Tarsila do Amaral traçou em sua vida e representou em terras tupiniquins e exteriores. Tarsila do Amaral, agora enquanto sobrinha-neta da grande artista, traz a tona o dia-a-dia da modernista que revolucionou por décadas. A sua representação é tão intensa que compreendemos a sua grande significância para o público brasileiro. A partir do relato do seu passado, desenvolvemos a perspectiva do que vivemos em tempo presente. 





Mais Pesado que o Céu - Uma Biografia de Kurt Cobain” vem a tratar com exatidão disso. Charles R. Cross representa em suas páginas os fatos da vida do mítico e revolucionário líder da banda Nirvana. Temos conhecimento de sua história conturbada, enquanto criança, ao viver em trailer numa cidade do estado de Washington, os detalhes de seus vícios e a finalização primaveril com seu suicídio em 1994. Somos contemplados com anotações, depoimentos e fotos, que corroboram para a nossa ideologia perante um grande artista. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde.

por Arthur Franco

“ – Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Talvez seja uma das frases mais clichês que se tem notícia, principalmente em tempos do falecido Orkut. Mas O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, continua a ter um lugar especial no coração de quem leu essa obra admirável.  

Existem sempre aqueles que julgam o livro como uma obra infantil, seja pela presença constante das aquarelas do autor, seja pela linguagem simples e pelo rumo que a história toma até o seu final. Mas, como diz o próprio Exupéry no prefácio, “todas as pessoas grandes foram um dia crianças. (Mas poucas se lembram disso)”. Aqueles que já conheceram a história do principezinho que decide sair do seu pequeno planeta para ver o mundo, sabem que o enredo por trás daquelas ingênuas palavras e das alegorias contadas através de raposas, geógrafos e rosas é bem maior e bem mais tocante. 


Aproveitando-se de uma revoada de pássaros que emigravam, o pequeno príncipe decidiu que era hora de conhecer outros planetas. Foi assim que passou pelo planeta do vaidoso, do bêbado, do homem de negócios, do acendedor de lampiões e do geógrafo, até desembarcar no maior deles: a Terra. Não era um planeta qualquer, “contam-se lá cento e onze reis (não esquecendo, e claro, os reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e meio de beberrões, trezentos e onze milhões de vaidosos - isto é, cerca de dois bilhões de pessoas grandes.” É ali que o garoto com cabelos de ouro e que não responde quando o interrogam encontra a sua passagem de volta para casa e apresenta o personagem mais querido e cativante do livro. A raposa, dona do célebre diálogo sobre cativar e sobre o essencial ser invisível aos olhos, nos é apresentada de forma breve e aparece em um só capítulo, mas mesmo assim se tornou a personagem mais célebre de toda a obra. É com ela que o príncipe mais vai aprender e que nós, do lado de fora da narração, mais vamos tomar consciência de quem é importante nas nossas vidas. 

O vocabulário fácil, mas permeado de metáforas e constatações filosóficas, transforma O Pequeno Príncipe na obra extraordinária que ele merece ser. Os diálogos são construídos de forma sistemática e indutiva, que permite que o leitor tenha vários olhares sobre a mesma sentença e diversas conclusões acerca de uma mesma conversa ou de um determinado personagem. É fácil encontrarmos geógrafos, serpentes e vaidosos no nosso dia a dia, a Terra está mesmo cheia deles. O que precisamos é identificar quem são as raposas e as rosas do nosso universo simbólico e de que forma estamos a cativar os sentimentos alheios. 

É nesse sentido que o príncipe de Exupéry tenta, assim como o acendedor de lampiões, originar uma luz que permite enxergar melhor o mundo, ver o invisível com os olhos do coração. E é assim que ele consegue.  

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ao canto dos tordos.

Por Carlos Gabriel F.

Estreou na penúltima sexta-feira do já despedido mês de março, 23, a tão esperada película, dirigida por Gary Ross – também responsável por “Seabiscuit - Alma de Herói” e “A Vida em Preto E Branco” –, intitulada como “Jogos Vorazes”.


Precisa-se notar que minha perspectiva diante a trama criada previamente por Suzanne Collins em meados de 2008, para qual o filme tomou como base, ainda é recente. Recentíssima, aliás. Havia lido, nesse oceano cibernético, sobre como a brochura era interessante e que deveriam constar nas listas de “livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos”. Apesar da edição brasileira ter chegado nas prateleiras ainda em 2010, por meio da editora Rocco, encontrei-me com as páginas apenas semana passada.

Suzanne, como bem vale ser lembrada, teve uma carreira voltada para o infanto-juvenil. A norte-americana, de madeixas castanhas e olhos acinzentados de tamanha doçura, já trabalhou com o canal televisivo Nickelodeon, onde ajudou na produção de programas tais como “Clarissa Explains It All” e “The Mystery Files of Shelby Woo”. A comunicadora formada em Indiana University passou, então, para o âmbito literário, em que se dedicou, primeiramente, a livros inteiramente infantis, muitos inspirados no já conhecido “Alice no País das Maravilhas”. Foi em 2008, então, que lançou o início de uma trilogia: “Jogos Vorazes” teve a sua ansiosa gênese. 

Pois bem, direcionemo-nos ao enredo do livro. Aqui se retrata a história de Katniss, moradora do Distrito 12, no país de Panem (antiga América do Norte, diga-se de passagem) e comandada pela Capital. É nesse lugar que acontece anualmente o que chamamos de Jogos Vorazes (ou Hunter Games, para os poliglotas): um reality show, onde um menino e uma menina de cada um dos dozes distritos são escolhidos, por meio de sorteios, a fim de batalharem até a morte em um campo residido na Capital. É na edição septuagésima quarta que Katniss vem a participar – em forma de tributo, para impedir que a sua irmã mais nova, escolhida no sorteio feminino, fosse para algo que não estava ainda preparada.

Junto a Peeta, Katniss vê-se indo para o lugar em que precisará batalhar por sua vida. A narração tramada por Suzanne é direta, sem rodeios e lirismos; as suas ideias são sobrepostas nas páginas e transmitem aquilo que é desenvolvido em sua mente, por vezes, muito criativa. A sua obliquidade é tamanha que desacostuma; digo: sente-se falta de tempo para respirar devido a sua forma subjetiva de escrita. Lemos, por meio da narração de Katniss, que aqui se torna a personagem principal, o que acontece em seu círculo de visão.

Enquanto o livro preza por sua característica sui generis, o filme não é diferente. A grande sacada de Gary Ross reside, entretanto, em mostrar além do que se é permitido conhecer no livro com a visão de Katniss. São retratados, entrementes, os bastidores do programa e seus momentos adjacentes – esses lapsos, por vezes, ficam subentendidos na narração de Suzanne, mas não é algo que se torna explícito com uma narração para além.

As diferenças entre brochura e película são diversas e, às vezes, pequenas e detalhistas – mas não tamanhas como em Percy Jackson, lembram-se? –, contudo, não é nada que torne o filme inutilizável. A adaptação nos quesitos fotografia e roteiro podem ser parabenizados de modo exemplar. Seja por questões éticas ou moralistas, no longa não é citado, entretanto, que o lugar ali retratado era, em épocas passadas, território norte-americano – o que concebe, na brochura, uma das grandes críticas ao modo como se propõe a estrutura social atual, principalmente na grande potência mundial, em que se distingue na indústria cultural massificada a admiração por aquilo que, se visto mais a fundo, é de retrato feroz em enlace à carnificina social hoje representada.