terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Miranda July: sobre a procura do amor diário.

Por Carlos Gabriel F.

Iniciamos hoje a nossa nova seção no Dois Leitores, com imenso prazer: Scriptores. Falaremos dos mais diversos autores e das mais comoventes escritas criadas ao longo do tempo; queremos, sobretudo, falar daqueles que elaboram universos, daqueles que com a arte da escrita são capazes de transcender por meio das palavras e fascinar cada vez mais uma gama de leitores. O Scriptores será sobre isso: os donos de nossos amores. 

Comecemos, então, com Miranda July. Conhecem?

“Look at the sky: that is for you. Look at each person's face as you pass on the street: those faces are for you. And the street itself, and the ground under the street, and the ball of fire underneath the ground: all these things are for you. There are as much for you as they are for other people. Remember this when you wake up in the morning and think you have nothing.”

Miranda July é dessas fazem-tudo-de-forma-magnífica, sabem? Aos trinta e oito anos a americana é (preparem o fôlego!) artista, escritora, dançaria, cantora, diretora de películas e vídeo clipes (além de ser proprietária de um site criativo, em que se necessita descobrir a palavra secreta para visualizá-lo - you know the password, just clear your mind and look within. it will probably be the first word that you think of.) .

De forma apaziguada e com diálogos concretos, diretos e preenchidos de extrema sensibilidade, Miranda nos leva pelo seu caminho de unicidade, em que retira do cotidiano histórias marcantes e belas. Em um de seus curtas, que acredito de dever ser mencionado, “Are You the Favorite Person of Anybody?” (2005), pergunta-se em concisão a estranhos transeuntes: você acredita ser a pessoa favorita de alguém? De uma pergunta simples, a diretora causa nos personagens ali representados três dos mais diversos e explanatórios efeitos: negação, desconhecimento e afirmação. 

Pois bem, quanto aos seus livros: é necessário migrar para a língua inglesa. O motivo é que em terras tupiniquins a autora possui apenas um livro publicado do total de seus seis: “É Claro Que Você Sabe Do Que Estou Falando” (“No One Belongs Here More Than You”, no original – 2007). Não fizeram uma má escolha, o pessoal da Editora Travessa, pois o livro em questão é um dos melhores (senão o melhor). Na brochura fina, de cento e noventa e duas páginas, ela traz à superfície histórias pequeninas em que trama uma conversa sincera com o leitor, em que questiona sentimentos, revela segredos internos, conta-nos truques surpreendentes, sem pedantismo e excessos, a fim de que nos identificarmos com o que ali é traçado: a busca diária e esmagadora por um novo amor, pela procura incessante de um sentido para aquilo que nomeiam como vida. Nos personagens criados por Miranda, nos vemos personificamos em quase todos, seja pela similaridade em que conduzimos nossos passos ou determinamos nossas escolhas.

Os textos de Miranda são pequenos, de enorme beleza e, felizmente, encontráveis na internet. Conheça por meio dos links a seguir a sua escrita muita das vezes breathless: o primeiro capítulo-conto de “É Claro Que Você Sabe Do Que Estou Falando”, “Making Love In 2003”, “Birthmark”. Os seus filmes e curtas também devem ser conferidos por tamanha excelência em filmagem e, sobretudo, roteiros, partindo do mesmo pretexto do mesmismo humanista – adicionem à suas listas “Me And You And Everyone We Know” (2005), o seu primeiro longa-metragem. 

“I made orange juice from concentrate and showed her the trick of squeezing the juice of one real orange into it. It removes the taste of being frozen. She marveled at this, and I laughed and said, Life is easy. What I meant was, Life is easy with you here, and when you leave, it will be hard again. The day felt like a birthday, our first, and we ourselves were the gifts, to be opened again and again. (…)”

P.S.: Já estão participando do sorteio que está acontecendo lá no Facebook? Não? Corre lá!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pronto para jogar?


Por Arthur Franco

Em Jogador Nº 1, de Ernest Cline, o ano já é 2044. Os humanos preferem passar todo o seu tempo livre no Oasis, uma espécie de vídeo game, do que enfrentar o mundo real. No Oasis, é possível ir a qualquer lugar, viver em qualquer um dos planetas, se apaixonar, ter a vida que sempre se sonhou: mas tudo isso virtualmente. 


Mas esse mundo virtual esconde um segredo. Seu criador deixou um prêmio, uma enorme fortuna para aqueles que conseguirem desvendar os enigmas contidos nessa “realidade alternativa”.  Os enigmas são baseados em uma época que o criador do Oasis adorava: o fim do século XX. A cultura pop desse tempo é a chave para resolver esse quebra-cabeça e ganhar o prêmio. 

Para sua sorte (ou não), Wade Watts consegue resolver o enigma e agora vai ter de competir com milhões de jogadores pela fortuna. Mas Watts entra em um jogo em que muitos jogadores não estão dispostos a jogar pelas regras e vão fazer de tudo para tirá-lo da competição. Vencer é agora a única opção para se manter vivo e, para fazer isso, Watts vai ter de sair do encanto virtual e enfrentar a realidade, mesmo que ela não seja assim tão perfeita.

Editora: Leya
Tradução: Carolina Caires Coelho
Páginas: 464 páginas

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Primeiro sorteio dois leitores - Caderno (Springfield)


O blog Dois Leitores surgiu ainda pequeno em meados de janeiro com o intuito de levar ao público virtual o melhor de resenhas e críticas sobre a nossa maior paixão: os livros. A ideia deu tão certo que atingimos um elevado número de acessos em questões de prematuras semanas de vida cibernética. Para, então, agradecer pelo cliques realizados, dedicamos este post especialmente a vocês com um sorteio simplesinho, mas como uma grande forma de gratidão.


Um caderno, medindo 15x10cm, com o propósito de que você, leitor, agora comece a escrever as suas próprias histórias. Um conjunto de páginas em branco para que você coloque aqueles rascunhos, aquelas ideais, tudo o que a sua imaginação produzir. Direto de Portugal, o sortudo ganhador não vai ter despesa nenhuma com o envio do presente.  

Quando primeiro bati os olhos nesse caderno de notas enquanto andava pelas lojas de Portugal, sabia que era o presente ideal para um sorteio no Dois Leitores. Um item prático e útil, indispensável para aqueles que partilham do nosso amor pela literatura e, quem sabe, um dia se tornarão escritores. 

Para participar é fácil. Basta curtir e compartilhar essa foto no Facebook. Simples assim. Você pode compartilhar até as 23:59 do dia 7 de março. O resultado sai dia 8!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte III.


Por Carlos Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Confira a primeira lista e a segunda!), que comecemos:

Prefiro o título em inglês que não tende a ser semelhante àquele-famigerado-e-famoso-livro-da-criminosa: “Florence and Giles” (2010). John Harding, influenciado pelas suas inspirações, Edgar Allan Poe e Henry James, cria em “A menina que não sabia ler” uma estória muitas vezes considerada mórbida, mas que nos leva à ebulição aos cruzar por cenas de suspense sombrio e mistérios. Florence, uma garota órfã de doze anos, é nos apresentada por si própria como uma amante dos livros, tendo como lugar favorito a biblioteca de sua torre. O lugar em que habita, a mansão Blithe, é circundada por segredos não revelados. Encontramos nesta trama a Senhorita Taylor, uma enigmática mulher com a função de cuidar das crianças, principalmente de seu irmão menor, Giles. É nesta mulher desconhecida que Florence enxerga seus medos e receios, pois se percebe cada vez mais distante do seu laço fraternal. A escrita de John é marcante e crua a fim de nos revelar o quão cruel pode ser o imaginário de um infante. Ao final das últimas palavras iremos nos perguntar: o que é verdade, o que foi perspectiva, o que de fato aconteceu durante estas escritas? Acredita-se na ingenuidade infantil ou contempla-se a obra com um olhar adulto de racionalidade?

“É uma história curiosa a que tenho de contar, uma história de difícil absorção e entendimento, por isso é uma sorte que eu tenha as palavras para cumprir a tarefa.”

Zig Zag” (2006) é de terras espanholas: foi escrito por José Carlos Somoza e chegou até a mim por meio da indicação uma amiga queridíssima de longe. Ela dizia sobre o quão o livro é bem traçado e a estória magnífica. E assim se foi. A brochura trata de assuntos que tanto tenho por favoritismo: viagem ao tempo, universo e Teoria das Cordas. O texto de Somoza acompanha um grupo de cientistas que tenta obter imagens cruciais do passado – desde a época dos dinossauros até a crucificação de Jesus Cristo – a partir das partículas de luz. A professora Elisa Robledo não esperava, entretanto, se deparar com questões tão devastadoras com os efeitos colaterais de sua pesquisa; os cientistas não esperavam, sobretudo, que criassem um monstro que vive à sombra e mata à sangue frio cada participante do projeto.

“A luz dessas estrelas demora milhões de anos para chegar à Terra – explicou ela. – Pode ser que não existam mais, mas nós continuaremos a vê-las durante muito tempo... Cada vez que olhamos para o céu à noite retrocedemos milhões de anos. Podemos viajar no tempo simplesmente olhando por uma janela.”

Mais uma vez Rick Riordan volta ao blog com os seus livros de divindades. Enquanto em Percy tínhamos o Olimpo como tópico, no livro “A Pirâmide Vermelha” (2010) temos como foco os deuses egípcios. Desta vez acompanhamos a saga de Dr. Julius Kane e seus dois filhos, Carter e Sadie Kane. A estória se inicia com a visita do Dr. a sua filha em Londres com o intuito de levar seus dois primogênitos ao British Museum em plena época natalina. Mas nem tudo sai como o esperado: Julius Kane evoca uma figura misteriosa e ambos, repentinamente, desaparecem. A aventura dos irmãos começa, deste modo, numa tentativa de resgatar o seu pai. É nessa aventura que descobrem segredos que envolvem suas famílias e a Casa da Vida, uma ordem secreta que existe há séculos. A brochura é o primeiro da coleção intitulada como “As Crônicas de Kane”. 

“Não, querida. Como sempre, o mundo moderno inverteu tudo. Preto é a cor do solo bom, como o do Nilo. É possível plantar alimentos na terra preta. E comida é uma coisa boa. Portanto, preto é bom. Vermelho é a cor da areia do deserto. Nada cresce no deserto. Portanto, vermelho é ruim.”

Deusa do Mar” (2003) é o primeiro romance de uma longa série  nomeada como“Goddess”, com já oito lançamentos. P. C. Cast invoca mais uma vez o seu feminismo marcante ao descrever o mito da sereia Ondina, mas com seu diferencial numa abordagem contemporânea. Christine Canady é uma solitária mulher que, na data do seu aniversário, recita uma invocação para adquirir ânimo em seu ócio diário; o que a sargento da Força Aérea Americana não imaginava era que tudo se tornaria realidade a partir do momento em seu avião caísse no oceano para ela se tornar uma personagem em um tempo legendário, administrado pela magia e pela mitologia.

“Lembre-se que eu estarei aqui – ele disse de modo resoluto. — Pela eternidade, Christine. Eu sou capaz de esperá-la pela eternidade.”



Mais uma vez o mestre Stephen King aparece nas listas de ficção pela sua excelência no assunto, desta vez representado com “O Apanhador de Sonhos” (2001), que até virou filme em meados de 2003. Lemos aqui a estória de quatro jovens que após salvarem uma criança especial do bullying, adquirem fortes poderes empáticos e, sobretudo, de ligações telepáticas. Anos após o acontecido, os quatro se veem aprisionados por uma nevasca em uma cabana nas florestas do Maine (sempre o maldito Maine!). Com uma narração que transgride entre o passado e o presente, King nos apresenta um universo em que alienígenas estão tentando controlar a mente da população terrestre a fim de atingir o patamar mundial de inspeção. Os personagens tramam não apenas uma batalha física contra o desconhecido, mas também mental, onde terão que recorrer à infância para encontrar a salvação.

P.s.: os extraterrestres adoram bacon – pelo menos eles tinham um ótimo gosto gastronômico. 

“Sometimes we have to kill, but our real job is to save lives.”


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um amor uivante.


Por Arthur Franco

"Me seria mais fácil esquecer da própria vida do que me esquecer de você." - Heathcliff

Essa é a frase que mais traduz a história de O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. O romance, digno do amor Bella-Edward (sendo, por sinal, a obra favorita de Bella) descreve a paixão devastadora de Heathcliff e Catherine. Narrado em terceira pessoa pela governanta Ellen Dean ao dono da granja Thrushcross, o livro foi lançado em 1847 e hoje é um clássico da literatura inglesa. A obra também aparece na primeira temporada da série The Vampire Diaries (CW), quando Stefan presenteia Elena com um exemplar. 

Heathcliff é um órfão que, encontrando pelo patriarca da família Earnshaw, é adotado e passa a morar com Catherine e seu irmão, Hindley, que não gosta do recém chegado. A proximidade de Cathy e Heathcliff é cada vez maior e, apesar de amá-lo, a garota decide se casar com Edgar Linton, que tem melhores condições financeiras. Heathcliff, desolado, abandona então sua casa e vai vagar pelo mundo. 

Os anos passam e Heathcliff retorna ao morro dos ventos uivantes, dessa vez abastado e chamando a atenção de todos. Catherine chega a ter uma filha, mas a protagonista morre logo em seguida. Sem nunca ter conseguido esquecer o seu primeiro e insano amor, Heathcliff decide então se vingar de Edgar e de Hindley. 


O Morro dos Ventos Uivantes é certamente uma das maiores histórias de amor já contada. A paixão de Heathcliff e Catherine transpõe barreiras e parece infinita, apesar de quase impossível. O tempo não atenua o amor, mas sim faz com que a idolatria cresça e cresça, a ponto de Cathy chegar a dizer: “meu amor por Heathcliff é como uma rocha eterna. Eu sou Heathcliff". O destino é cruel, mas nada parece implacável para esse romance em que os sentimentos são intensos e a paixão é o motor da vida dos personagens principais.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os dois Ladrões.


Por Carlos Gabriel F.

Ao descobrir que os nossos livros preferidos se tornarão filmes, ou até mesmo seriados televisivos, encantamo-nos e tornamos expectativa enquanto previsão futura de que a adaptação venha a ser com exatidão aquilo que imaginara enquanto lia a brochura em algum tempo passado. Esperamos por tempos intermináveis de que aquele material produzido em conjunto a um diretor e roteirista se torne de tamanha primazia que nos sacie enquanto leitores insaciáveis. Mas a verdade seja dita: isso nunca acontece. “Nunca”, deixem-me generalizar. Seja por questões subjetivas ou porque somos demasiadamente exigentes, as nossas obras, retratadas numa tela qualquer de cinema, não condizem com o que havíamos imaginado. Os filmes são bons se muita das vezes analisados por fatores como a atuação dos atores ou a fotografia utilizada no longa, mas deixa de ganhar a sua merecida magia por não corresponder àquilo que queríamos. Esse complexo entre filme versus livro é um estigma nas nossas vidas – e muitas das vezes também um ciclo vicioso: nunca nos cansamos de esperar por algo que venha a contrariar todo o nosso conceito formado acerca deste assunto.


Se for pra falar de adaptações, que comecemos por “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, escrito por Rick Riordan, (que já apareceu por aqui em outrora nos “Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte I”), que foi adaptado aos cinemas em 2010 pela direção de Chris Columbus – aquele mesmo que também levou para as telas, enquanto produtor e diretor, as três primeiras edições da saga Harry Potter. No papel de Percy Jackson encontramos Logan Lerman, como Grover Underwood temos Brandon T. Jackson e, por fim, Alexandra Daddario interpretando Annabeth Chase. Acredito que a primeira divergência entre livro e filme começa-se por este aspecto: a escolha dos atores e atrizes. Logan assemelha-se à descrição de Percy, mas peca ao retratá-lo como um jovem de dezessete anos enquanto nosso original tinha sequer doze; Grover, por sua vez, é ruivo de cabelo encaracolado, com um sino ao pescoço e olhos azuis, enquanto Brandon é negro, com cabelos curtos e pretos; Annabeth, pela última decepção, é retratada por Rick como loira, de olhos cinzentos e de idade de Percy, enquanto nos olhos de Chris, a personagem se torna mais velha com madeixas acastanhadas. 

São tantas as comparações, são tantas as decepções, que retratarei apenas as principais, aquelas que, não entendo como, foram deixadas de lado em um filme de cento e vinte minutos e que irão, de algum modo, danificar as próximas adaptações – se elas de fato vierem a existir – que são “O Mar de Monstros”, “A Maldição do Titã”, “A Batalha do Labirinto” e “O Último Olimpiano”. 

Primeiramente, o Acampamento Meio-Sangue é descrito como um belo lugar em uma planície localizado no meio de colinas, com construções de arquitetura grega de extrema beleza, com vastos campos de plantações rasteiras, circundadas por florestas; na película, de outra forma, a área assemelha-se mais a uma grande selva insípida. 

Personagens importantes foram deixados fora da trama visual, como Clarisse – que causaria em Percy a experiência de ser capaz de controlar a água, mesmo que de modo rudimentar, e também será esta que acompanhará o protagonista em outras aventuras nos livros conseguintes –, Oráculo de Delfos – responsável pelas principais previsões ao longo da série –, Cronos – ex-divindade suprema que será o malvado em momentos posteriores – e Sr. D – diretor do acampamento e de quem Percy ouviu bons conselhos.

Percy em um momento oportuno, descobre a sua filiação divina de modos absurdamente diferentes. Nos escritos, o menino percebe o símbolo a pairar sobre sua cabeça após uma disputa tradicional entre as diferentes casas do reino, enquanto no longa, o responsável por contar ao jovem é Quíron, o centauro diretor de atividades do acampamento.

Uma das diferenças principais entre as duas obras – porque é assim que as vejo: duas obras, com enredos similares, contexto semelhante, mas com diferenças tamanhas que se divergem a pontos opostos –, e digna de ser citada, é o responsável pelo roubo do Raio. Enquanto no filme temos um jovem como apontado – o vilão, sim, de muitos dos atos cometidos tanto no primeiro como nos livros próximos –, na brochura temos um Deus olimpiano.

As divergências são tamanhas, de fato, mas não impedem de que o filme seja desprezível, já que conta com ótimas cenas de aventura e lutas gráficas de tirar o fôlego. Para aqueles que não temem pela decepção ou não tenham mente uma comparação a ser feita, é uma ótima escolha para o final de semana, mas para aqueles que são aficionados pela saga riordiana, imagino que será uma grande decepção. 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Desmistificando uma rivalidade.


Por Arthur Franco e Carlos Gabriel F.

O facebook vem sendo palco constante de um duelo que já dura algum tempo. De um lado, os fãs de Harry Potter, com varinhas e críticas em punho, defendendo com unhas, dentes e feitiços a saga criada por J. K. Rowling. Batendo de frente, estão os fãs de Crepúsculo, passando por cima de tudo e de todos para colocarem a história do triângulo Bella-Edward-Jacob no lugar de melhor livro de fantasia já escrito. 

As duas obras são estrondosos sucessos que levam acalorados fãs aos lançamentos dos filmes e criam filas imensas nas estréias das adaptações cinematográficas. Ambas já ganharam diversos prêmios e abarrotaram as contas bancárias de suas autoras, tudo graças aos leitores que fazem de tudo pelos seus heróis.  

Fãs de todo o mundo compartilham fotos que pronunciam que o triângulo Harry-Rony-Hermione “nunca chegará aos pés” do triângulo formado pelos protagonistas de Crepúsculo (ou vice e versa). Além disso, Stephen King deu recentemente uma declaração que só deu mais força ao duelo. O autor disse à revista USA Weekend que a principal diferença entre J. K. Rowling e Stephenie Meyer é que a primeira é uma ótima escritora, enquanto Meyer “não consegue escrever nada”. Outra citação atribuída a King que anda circulando pela internet é que “J.K. Rowling escreveu em um capítulo uma história de amor melhor que Stephenie Meyer fez em quatro livros”. Verídica ou não, é fato que desperta nos fãs das duas histórias uma tendência à confrontação.

Mas qual o porquê desse embate? Os livros são assim tão parecidos que não podem coexistir na mesma estante? Não é possível gostar das duas sagas? Esse parece ser o pensamento de alguns fãs, mas vamos aos argumentos. 

Harry Potter foi primeiramente lançado em 1997. Pode-se dizer com certeza que a série é um fenômeno dos últimos anos, arrecadando milhões de dólares tanto nas vendas dos livros quanto de produtos baseados na saga, como filmes, videogames, roupas, itens de colecionador e até outros livros que abordam o universo mágico de HP. Contando com sete volumes, a história gira em torno de Harry, um órfão que mora com seus tios abomináveis. Prestes a fazer 11 anos, Harry recebe a inesperada visita de Rúbeo Hagrid, guardião das Chaves e dos Terrenos de Hogwarts, e descobre que é bruxo. Na mesma noite ainda, Harry descobre que seus pais não morreram em um acidente de carro, mas foram mortos pelo maior bruxo das trevas de todos os tempos: Lord Voldemort. É em torno desse conflito que toda a série vai se desenvolver, na eterna luta do bem contra o mal, da justiça contra o erro, do certo versus o errado. 

Já Crepúsculo tem a sua temática baseada em uma história de amor “impossível”. Lançado em 2005, o livro também se tornou um imediato sucesso, sendo seguido de filmes, jogos, roupas e livros derivados da saga. São no total quatro livros que narram a história de Bella, uma humana que se apaixona pelo misterioso e pálido Edward. As circunstâncias acabam por deixá-los cada vez mais próximos, até Bella descobrir pelo seu amigo Jacob que Edward é um vampiro, mas que não se alimenta de sangue humano. Ao longo dos livros, a personagem principal também descobre que Jacob é um lobisomem, inimigo natural dos vampiros. A partir daí surgem os conflitos, já que Bella esta perdidamente apaixonada por Edward, mas nutre sentimentos por Jacob. 


As duas obras possuem diversos pontos em comum, mas também se diferenciam bastante em certos aspectos. O principal em comum é o universo fantástico e mágico em que as histórias se desenvolvem. Harry Potter é um livro carregado de mitologia, em que bruxos, centauros, sereias e outros seres mágicos se misturam e interagem. Crepúsculo também é assim, permeado por vampiros e lobisomens. Os dois livros jogam com seres que estão no imaginário popular há séculos já, mas ambos dão um ponto de vista diferente da cultura tradicional de bruxos e vampiros. Harry não faz encontros secretos na floresta para adorar a lua e Edward não bebe sangue humano. Além disso, nem todos os personagens dos dois livros são dotados de poderes, então a maioria da humanidade desconhece a existência dessas criaturas mágicas. 

O segundo ponto em comum é que ambas as obras foram escritas para um público juvenil. Evidentemente, depois de lançados e ficaram conhecidos, leitores de todas as idades se interessam pelas histórias. As temáticas de vida escolar, magia, amizade, luta do bem contra o mal (HP) e virgindade, adolescência, romance, primeira vez no sexo (Crepúsculo) são voltadas, primeiramente, para o público adolescente.  
  
Outra semelhança é o triângulo que aparece nos dois livros. A série Harry Potter é focado no triângulo Harry-Ron-Hermione, enquanto Crepúsculo tem Bella-Edward-Jacob como protagonistas. Mas as semelhanças nesse aspecto param por aqui. Somente a composição dos personagens principais que é igual. Vejamos o que os livros têm de diferenças. 

Pode-se pensar que a escolha de um triângulo de personagens como protagonistas foi pensada no sentido romântico, para que consequentemente exista um conflito de interesses. Isso realmente ocorre em Crepúsculo, mas não existe em HP. Bella se apaixona por Edward, de uma forma quase insana, mas fica em dúvida dos seus sentimentos quando se aproxima de Jacob. E é essa tensão amorosa-sexual que desenvolve a história (além do amor de Bella por Edward). Outros pontos, como conflitos entre vampiros e virgindade, também são abordados, mas ficam em segundo plano. Já em HP, o triangulo principal não tem um “quê” de amor. Em nenhum momento do livro é colocado que Harry se apaixona por Hermione. Ela desenvolve sentimentos por Rony, que culminam no casamento do casal no fim da saga, mas é somente esse o romance que envolve os personagens principais enquanto triângulo. Harry se envolve amorosamente com outras personagens, mas que estão em segundo plano. 

O foco dado às histórias também é totalmente díspare.  Crepúsculo se foca, quase que em todos os 4 livros, e de forma intensa e única, no amor de Bella e Edward e de como esse romance afeta a vida dos dois. Afinal, Edward é um vampiro imortal e Bella é uma simples jovem que não viverá para sempre. Como os dois podem possivelmente ficar juntos sem que Bella seja mordida e vire uma vampira, ganhando assim a vida eterna? O romance (ainda que meloso) é combustível da história. Em HP o quesito romance fica em segundo plano, com o amor de Harry e Gina ou de Rony e Hermione. O que J. K. Rowling prioriza, em detrimento do amor, é a amizade, os benefícios de ter amigos e o que a falta deles pode causar. 

O motor do enredo em HP é a eterna luta do bem contra o mal. Harry e Voldemort estão em conflito da primeira a última página da saga e tudo culmina para que a bondade, o que é certo vença a representação da maldade, mesmo com muitos empecilhos e dificuldade nesse percurso. Em Crepúsculo essa luta é quase inexistente. Podemos dizer que Edward simboliza o bem, uma vez que não bebe sangue humano, mas o mal tem poucas representações durante a saga.  

Uma última característica que se encontra em divergência nas duas obras é como a história é narrada e suas diferentes perspectivas. Enquanto J. K. opta pelo uso da terceira pessoa do singular, de modo a descrever fatos num espaço em que é onisciente e observadora, Meyer, por sua vez, escolhe como narradora a própria personagem, tornando-a em seu eu-lírico ali submetido. No primeiro caso possibilita-se um relato dos acontecimentos além dos protagonistas, já que o enredo se adensa em outros aspectos, enquanto, no segundo, prioriza-se apenas a visão da personagem em questão, tramando apenas o que está ao alcance de sua percepção.  

Depois da avaliação das duas séries, é possível ver que, apesar de serem histórias de fantasias, ambientadas em um universo mágico e em que os protagonistas são criaturas mitológicas da cultura popular, os livros não são assim tão parecidos. Podem, e devem, sim coexistir na mesma estante. São livros bem escritos e cativantes, cada um no seu modo e com a sua história.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Atualizando a estante.


Por Carlos Gabriel F.

Não é apenas de livros seculares que se faz um leitor, já diziam: atualize-se, saiba o seu contexto social-histórico e nele viva. Pois muito bem, vamos a alguns lançamentos:

Samanta Holtz, escritora de origem interiorana paulista, publica por fim seu terceiro romance, “O Pássaro”. Holtz é conhecida por suas estórias de teor shakesperiano, onde guia o leitor em ininterruptas torrentes de sentimentos. Em sua nova publicação, conhecemos Caroline Mondevieu, filha de um conhecido e poderoso barão, que possui o status tão desejado por algumas meninas da era moderna: riqueza e um possível cavalheiro a quem se apaixonar; com o sonho de ser dona do próprio destino. O inesperado, entretanto, acontece quando Caroline encontra-se com Bernardo, que possui em comum com a donzela a vontade insaciável da liberdade. A partir de então Holtz nos conduz a uma trama de mistérios, aventuras e segredos inesperados como tão bem fez em “Renascer de um Outono” e “Corpo e Alma”.

Editora: Novo Século
Páginas: 480
Como não continuar amando Charlaine Harris, autora da saga que resultou a série televisiva True Blood? Foi lançado recentemente em área nacional o livro “Surpresa do Além”, segundo volume da série Harper Connelly Mysteries. Após ser atingida por um raio, adquirir o dom especial de sentir os mortos, ter viajado por terras americanas auxiliando entes de pessoas desaparecidas a entender o que de fato havia acontecido em “Visão do Além”, Harper, na continuação de sua saga, gostaria apenas de analisar mais alguns corpos e chocar estudantes céticos de antropologia em uma universidade em Memphis, mas o que a menina e seu irmão Tolliver não esperavam era que os mortos também fossem capazes surpreender. O novo livro de Charlaine promete ser tão irreverente quanto os seus anteriores.

Editora: Leya
Páginas: 256
Ladrão de olhos - As aventuras de Peter Nimble” de Jonathan Auxier, é intrigante por si só: afinal, como um deficiente visual, órfão, poderia se tornar um herói nas avenidas de Londres? É sobre a estória de Peter Nimble que Auxier propõe-se a narrar: uma pobre criatura que enfrentará, numa aventura inesquecível, inimigos e vilões inesperados para se safar e continuar na presença de sua companhia amiga. Este é o primeiro romance do autor canadense que, reverenciado em terras estadunidenses, terá sua obra publicada em treze países.

Editora: Leya
Páginas: 424

sábado, 11 de fevereiro de 2012

“Thinner”


Por Arthur Franco

“Thinner”. Foi a frase que, acompanhada de um beijo na bochecha, mudou completamente a vida de Billy Halleck. A Maldição do Cigano foi inicialmente publicado em 1984 sob o pseudônimo de Richard Bachman. Quando então foi revelado que o seu verdadeiro autor era Stephen King, as vendas subiram bastante. O filme ganhou uma adaptação cinematográfica de 1996, que no Brasil ganhou o nome de A Maldição.

Billy Halleck, advogado até então bem sucedido e feliz ao lado da esposa Heidi e da filha Linda, só tinha como problema a sua obesidade. Até um dia que atropelou uma cigana, que, segundo ele “surgiu do meio de dois carros”. O fato é que, enquanto dirigia, sua esposa o entretinha sexualmente. Desse jeito, não havia mesmo como parar o carro quando a cigana apareceu no meio da rua.

Levado aos tribunais para pagar pelo seu erro, Billy é absolvido por um juiz amigo, que decide que tudo não passou de um acidente. Inconformado com a justiça dos homens, Taduz Lemke, o pai da cigana atropelada, resolve fazer a justiça dos ciganos.  

“Emagrecido. E antes que Halleck possa recuar, o velho cigano estira o braço e acaricia-lhe a face com um dedo torcido. Os lábios dele entreabrem-se como uma ferida, exibindo alguns cacos de dentes que despontam das gengivas, à maneira de lousas tumulares quebradas. Cacos de dentes enegrecidos e esverdeados. A língua do velho se esgueira por entre eles e então desponta, para lamber os amargos lábios sorridentes.”

Billy então, sem acreditar na maldição, vê o ponteiro da balança descer a cada dia. Maldições não existem, pensava ele. Mas quando ele descobre que os outros envolvidos no julgamento também passam a sofrer estranhas transformações, Billy fica aterrorizado. Seus 113 quilos estão simplesmente evaporando e a cada dia o advogado ganha um aspecto mais cadavérico, apesar de sempre comer mais e mais. 

O único que pode reverter essa situação é Taduz Lemke, mas não vai ser fácil convencê-lo. Billy se junta com o seu amigo mafioso Richard Ginnelle e juntos vão cruzar meio país atrás do cigano. E quando o encontrarem, Billy vai ter de provar que já pagou pelos seus pecados. Mas será que Taduz é capaz de perdoá-lo pela morte de sua filha?

Durante a leitura, as noções de justiça, vingança e culpa são colocadas a prova e dialogadas com o terror e o medo da morte. A partir do momento que Billy vê que está perdendo peso de uma forma inimaginável e toma noção de que se continuar assim vai morrer logo, o advogado começa a pensar no que fez e no modo que leva a vida. É um reflexo do popular ditado “a justiça tarda, mas não falha”. Porque, nas palavras do cigano Taduz, “todo mundo paga, homem branco da cidade  –  mesmo por coisas que não fez. Porque, de fato, é assim que tem de ser.“


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte II.


Por Carlos Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Clique aqui a conferir a primeira parte da lista), que comecemos:

Você provavelmente já se deparara com este livro em algum ponto inexperiente de sua vida, seja como preferido da sua professora de colegial ou até mesmo vagando nas estantes de alguma da biblioteca. “O Mundo de Sofia” (1991), de Jostein Gaarder, é considerado por mim, e por muitos, como um clássico da literatura. A narrativa é realizada de uma forma interativa, de modo a descrever toda a história da filosofia e despertar a consciência do leitor perante a vida e suas ciências. A trama vivida por Sofia e seu professor particular é fenomenal por fatores instigantes e únicos, criados especialmente por Gaarder. Ao começar a leitura, é melhor estar preparado para o final!

“(...) Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente.”




Mr. X.” (1999), de Peter Straub, fora comprado por mim porque estava na mesma estante que os brochurados de Stephen King e do mesmo recebia uma ótima crítica: “A trama nos desafia, os personagens são de uma complexidade intrigante, e o estilo inconfundível”. Somos levados pelo mundo eloquente criado por Ned Dunstan e as lacunas existentes em sua vida. Sua mãe, Star, no leito da morte avisa-lhe sobre as circunstâncias perigosas em que vivia e o nome de seu pai, antes desconhecido. Em cenas vibrantes de áreas oníricas da psique humana, acompanhamos a narração de Peter Straub, que é marcada entrementes pelo horror. 

“Vocês estão certos – realmente certos – que sabem quem foi que lhes contou esta história?”




Com os holofotes virados para “Crepúsculo”, “A Hospedeira” (2008) talvez não tenha ganhado o verdadeiro reconhecimento que deveria. Stephenie Meyer, aqui mais densa e madura do que nas estórias vampirescas, concerta uma trama de um mundo dominado por seres que usam dos humanos como os seus hospedeiros. Neste plano está Melanie, uma das “selvagens” que, porventura, não sucumbira ao processo extraterrestre.  Peregrina, entretanto, é designada como “alma” para o invólucro de Melanie, que, por desacorde do destino, fora capturada. O que não se era esperado, contudo, é a sobrevivência, mesmo que mental, da humana que aquele corpo habitava. A obra de Meyer retrata um questionamento da humanidade enquanto laços fraternais e âmago sentimental: somos físico ou espiritual? Podemos mudar o que de fato somos?

“Talvez não pudesse haver felicidade neste planeta sem um peso igual de dor que deixasse tudo equilibrado em alguma balança desconhecida.”
A Vidente” (2009), Hannah Howell, é o primeiro da coleção Wherlocke Series, e dá graças para os dias de chuva, com chocolate quente ao lado da bancada e meias de lã nos pés deitados: um belo romance açucarado. Passando-se no século XVIII, Chloe Wherlocke possui o dom de ver, com antecedência, fatos ainda não realizados. Ainda em 1785, ela é capaz de visualizar a morte de sua irmã ao realizar o parto e todas as suas complicações futuras. Na tentativa de impedir o falecimento, a herdeira Wherlocke penetra ainda mais nos laços dos seus familiares, o que exigirá dela um lado heróico – força, vontade própria e capacidade de mudar os padrões impostos pelo seu contexto social-histórico.

“Bem, depois que tiverem terminado de planejar meu futuro por mim, não se esqueçam de me comunicar o que decidiram! Então direi aos dois exatamente o que eu acho! De modo sucinto!”


O Chamado de Cthulhu e Outros Contos” (2010) é uma organização de Guilherme da Silva Braga para os contos de H. P. Lovecraft – o autor que, ao lado de Edgar Allan Poe, elevou a literatura dos contos fantásticos ao patamar da arte no século XIX. O brochurado reúne sete contos do autor, entre eles “Dagon”, talvez o mais conhecido texto de Lovecraft, que narra o encontro do personagem com o que se pensa ser a representação dos deuses de alguma tribo primitiva de navegadores. Lovecraft soube, em sua vida, como enegrecer o real; como estar frente ao seu tempo e criar cientificidade nas páginas; como deixar para a humanidade uma grande fonte de literatura clássica.

“Escrevo essa história sob uma pressão mental considerável, uma vez que hoje à noite me apago.”


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Segredos misteriosos.


 Por Arthur Franco.

A editora Record lançou no mês passado “A Mulher de Preto”, suspense sobrenatural da autora inglesa Susan Hill. No livro, Arthur Kipps é um advogado que chega a um vilarejo encravado em uma região remota da Inglaterra para cuidar dos papéis da falecida Sra. Alice Drablow.  Com o pressentimento de que não está sozinho, o jovem começa a desvendar os segredos da antiga mansão da senhora Drablow e passa a ser atormentado por visões de uma mulher de preto, que parece não ter boas intenções. 


Lançado originalmente em 1983, o livro só foi publicado em terras tupiniquins esse ano. Susan Hill é conhecida por outros livros, como “Srª Winter” e “A Batalha por Gullywith”, já publicados no Brasil.

A Mulher de Preto ganhou uma versão cinematográfica estrelada por Daniel Radcliffe (Harry Potter), prevista para estrear no Brasil em fevereiro.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pra falar de um bom mistério.


Por Carlos Gabriel F.

Antes de me aprisionar na difícil missão de resenhar “Marina”, necessito descrever a imensidão literária chamada Carlos Ruiz Zafón. O autor é responsável por, considerados por mim, clássicos da literatura do século XXI: “A Sombra do Vento” e “O Jogo do Anjo” – também é de sua autoria três livros infanto-para-todas-as-idades (“O Príncipe da Névoa”, “O Palácio da Meia-Noite” e “As Luzes de Setembro”), além de “Marina”, e realiza contribuições para roteiros de longas-metragens e para jornais. Uma revelação tanto para o público espanhol quanto para o mundo, Zafón retira da unicidade tramas inimagináveis. Como bem diria os críticos datados da gazeta estadunidense USA Today: “o talento visionário de Zafón para contar histórias é um gênero literário em si” – exato, na mosca. Zafón tem por facilidade em trazer para o cosmo real o que, porventura, é ainda inexistente; pura ficção de uma mente em constante operação imaginativa. Damo-nos por fim enquanto insanos e acreditamos em cada palavra ali datilografada e criada pelo autor; apaixonamos pelo ar exalado nas páginas a partir dos personagens; prendemos a respiração a cada suspense criado, a cada negritude espalhada na narração – porque se acostumem: na gótica Barcelona se passa as estórias, num cenário surreal de constante angustiosa expectativa, em que através dos olhos se forma um denso vício de sempre querer por mais.

Já dada a visão perante o rei espanhol da literatura, que comecemos o diálogo com o seu mais recente lançamento em território tupiniquim e primeiro livro escrito enquanto carreira literária. “Marina” retrata uma Barcelona da década de 1970, envolvida pelo mistério, divida entre o contemporâneo e antigo. Temos como eu-lírico Óscar Drai, menino mofado já nos quinze anos, enclausurado num internato com nome de santo, que em seus momentos favoritos refugia-se nas ruelas da cidade esquecida. Foi nestes dias de miséria, andando através das avenidas e descobrindo-se em casarões antigos destinados à demolição, que se deparara com uma melodia de sonetos cortantes mas de essência hipnotizante. A música era de tamanha beleza que fora atraído para o interior da casa, a fim de descobrir a sua origem, que fosse. No interior do casarão, se encontrou diante de retratos magníficos de uma bela mulher, de olhos cinzentos e tristes. O investigador juvenil não esperava, entretanto, encontrar um velho por ali a habitar; de rápida visão, o menino foge das mãos que o buscam em disparate: tropeça no gramofone naquele lugar a tocar e leva consigo um relógio brilhante e esférico, encontrado e pego acidentalmente momentos antes de ser perseguido. 

Não sabia Óscar que este roubo involuntário resultaria em uma das mais bonitas amizades já descritas nos livros de ficção. Era de desconhecimento do menino que aquele ato o levaria, de algum modo, a se conectar com Marina. Fora em sua casa que penetrou, era de sua propriedade e pai, Germán, o velho que descansava nas poltronas da casa antes abandonada, que Óscar furtara o relógio antigo. Marina era menina nova, de idade similar à Óscar, misteriosa, de “um jeito de sorrir que fazia com que me sentisse pequeno e insignificante”. Gérman era o prisioneiro do século passado, de fisionomia doentia, alma de absoluta educação, rejeitado pelo pai ainda cedo e artista de extremo reconhecimento – “os artistas vivem no futuro ou no passado, nunca no presente. Germán vive de recordações. É tudo o que ele tem”.

Foi em Marina que Óscar encontrou uma parceria de aventuras; nela que vislumbrou a vontade de viver para além das paredes d’uma casa em estado natural de demolição. Descobriram-se, em uma primeira oportunidade, em um cemitério antigo da cidade, a observar uma dama de negro, com o rosto tapado, a visitar um túmulo desconhecido, com apenas uma borboleta gravada na lápide de mármore. “Ela vem todo último domingo do mês às dez da manhã e deixa uma rosa vermelha sobre essa lápide”, explicava Marina, que já havia conhecido a mulher em momentos anteriores. Incitados pelo mistério envolvendo aquela ocasião, menina e menino, resignados, imergem numa trama de lutas e mortes que sabem ser criadas de forma especial por Zafón. “O caminho do inferno está cheio de boas intenções”

Com uma trama profunda e de inquietude magnífica, somos conduzidos pelo passado da empresa Velo-Granell, que é circundada pelo mistério de seus proprietários. Os personagens aventuram-se em uma Barcelona de linda descrição, onde Zafón dá voz ao desconhecido e conduz o leitor a um final surpreendente, que faz-nos questionar onde termina a realidade e começa a idealização. “Às vezes, as coisas mais reais só acontecem na imaginação, Óscar - disse ela - a gente só se lembra do que nunca aconteceu”.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Nem só de homens se faz a coragem.

Por Arthur Franco

Memorial de Maria Moura chegou às minhas mãos de uma forma totalmente repentina. Antigo assinante da Folha de São Paulo enquanto ainda morava no Brasil, um belo dia a Livraria da Folha resolveu me presentear com um exemplar do último romance de Rachel de Queiroz. Um livro de capa dura, com uma foto chamativa. O resumo na primeira passada de olhos não me chamou a atenção. Uma mulher no século XIX que desafiou a sociedade, venceu a miséria e conseguiu recuperar tudo o que importava para uma mulher naquele tempo: família, honra e terra.

Mas mesmo assim alguma coisa me fez querer destrinchar essa tão sublime personagem, criada na década de 1990 pelas mãos da primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. 

Narrado em primeira pessoa, as descrições dos acontecimentos variam entre o ponto de vista de Maria Moura; de Marialva, sua prima; e do Beato Romano. 

Com apenas 17 anos, Maria Moura vê sua vida se transformar pesarosamente: encontra a mãe morta, é violada pelo padrasto e vê as terras de sua família caírem nas mãos dos ambiciosos primos. A fome é grande, a pobreza é maior ainda. Determinada a sobreviver de toda maneira, manda matar o padrasto, foge, organiza roubos e vira chefe de um bando de jagunços. Mas Moura não é só ferro e fogo. É paixão, encontrada nos braços de Duarte. E também de Cirino. É sexo, é carnal, “amor desesperado, furioso, que doía, machucava; amor de dois inimigos, se mordendo e se ferindo, como se quisessem que aquilo acabasse em morte (...) “. Mas é também desapontamento, raiva, dor, perdida na traição de Cirino à casa forte. É uma mulher forte, destemida, que usa faca na bainha da calça de homens que traz no corpo. É o retrato do Nordeste da seca, da fome, do povo que luta conta o tempo, contra a vida e a morte, contra o pouco de cada dia. 

Rachel de Queiroz deixa o romance em um estado de suspensão nas suas últimas páginas (recurso também utilizado por Saint-Exupéry, no final de O Pequeno Príncipe). O leitor não sabe o que acontecerá/aconteceu com os protagonistas. Vida e morte se aliam em um último embate, se identificando na coragem de Moura contra os primos, na luta final por aquilo que a pertence. 

Maria Moura, honrando a família, os antepassados, as terras, a coragem e o pai, decide buscar tomar de assalto o que é seu por direito. Duarte ainda tenta apaziguar: “Ainda está na hora de mudar de idéia, Sinhá. Vai ser uma luta muito dura, com esses homens traquejados para matar. Não é briga para mulher. E se lhe matam?” Mas Maria não vacila e honra a vontade de mudança que carrega no peito: Se tiver de morrer lá, eu morro e pronto. Mas ficando aqui eu morro muito mais.

Estupendamente um livro forte, que vai ao fundo das questões mais corriqueiras. Expõe o olhar de uma mulher simples frente à ganância, à fome, às necessidades e às virtudes humanas, que busca enfrentar o domínio de uma sociedade regida por homens. Rachel de Queiroz traz uma obra envolvente, mas ao mesmo tempo simples e que tem como fundo a questão do ser humano como personagem do mundo frente às questões da vida e da morte. Tão envolvente e intuitiva que até virou minissérie da Rede Globo, com Glória Pires no papel de Maria Moura. Grandioso, digno de ser a obra prima de Rachel de Queiroz.




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Bazinga!

 Por Arthur Franco

Sheldon, Leonard, Raj, Howard e Penny com certeza já fizeram você rir. Mas com certeza também já fizeram você ficar sem entender muita coisa. The Big Bang Theory é um excelente seriado, mas algumas vezes faz piadas com termos científicos que nem sempre são conhecidos do público. Foi pensando nisso que George Beahm resolveu escrever Big Bang: A Teoria – Guia Não Autorizado da Série.
 
O livro traz, além da explicação dos nomes científicos que aparecem na série, detalhes sobre os personagens, curiosidades sobre os episódios, cenas engraçadas dos bastidores e até mesmo um passeio pelos principais cenários da sitcom. 


E para você não se perder nas referências culturais da série, a obra também tem um conjunto de dicas para você ficar por dentro do universo nerd e para despertar o geek que existe em você. 


Editora: Universo dos Livros 
Tradutor: Felipe Vieira
Páginas: 336