sexta-feira, 29 de junho de 2012

Uma Madame a frente do seu tempo.


Por Arthur Franco

Quando Gustave Flaubert publicou Madame Bovary em 1857, a obra foi considerada escandalosa. Ao retratar a vida de uma mulher burguesa que se casa e logo vê a sua vida apática e sempre no marasmo, o autor incitou graves críticas à sociedade da época.

A Madame do título é Emma, uma mulher sonhadora, que gosta de livros de romance e acredita que se apaixonar é uma grande aventura. Através da literatura a moça conheceu outros mundos, outras realidades, amou, odiou, sentiu intensamente. E assim esperava que fosse a sua vida. Encontra um marido em Charles Bovary, um médico de província que a ama mais do que tudo e faz todas as suas vontades. Entretanto, o amor de Charles é proporcional ao tédio que causa na mulher. Emma sente-se entediada ao extremo com o marido, com a casa, com a sua vida. Nem mesmo o nascimento de sua filha lhe desperta emoções. Afundada na agonia e no desejo de aventura, ela parte então para o adultério, onde encontra satisfação momentânea. Mas Emma nunca está plenamente satisfeita com o que tem.

Madame Bovary é considerado um clássico da literatura, tanto pela sua linguagem quanto pela inovação do enredo. Ao tratar de temas como adultério e suicídio, além de tecer severas críticas a burguesia e aos seus costumes, Gustave Flaubert chocou o mundo, mas ao mesmo mostrou que o pensamento antigo, da mulher quieta, submissa e sem grandes aspirações, já era passado.  

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Adornos novos de celulose.

Por Carlos Gabriel F
Para atualizar a estante!

Uma nova brochura de Jennifer Egan chega ao mercado brasileiro. A escritora, conhecida pelo seu intraduzível “A Visit From the Goon Squad” (de título “A visita cruel do tempo” em editora nacional), contempla-nos com “O Torreão”. A história, que se passa na Europa Ocidental, levar-nos-á através de um enigmático castelo que sobrevive por centena de anos meio a uma única família. Tudo muda a partir da chegada de Danny, um geek que não se desconecta da esfera virtual. O contexto de surreal e assustador usual da autora se dá por iniciado quando trágicos acidentes aparecem – fazendo de nós, leitores, meros desacreditados da realidade a nós pactuante. 

Editora: Intrínseca
Páginas: 240
Tradução: Rubens Figueiredo



E se o multiverso fosse possível? E se, olhe bem, todas as teorias da física moderna clamassem por nossa realidade? A teoria das cordas, eletrodinâmica quântica, teoria da informação – todas elas, coexistindo e possibilitando a ideia de universos paralelos – fossem a explicação para os enigmas cosmológicos? Em “A Realidade Oculta”, Brian Greene – um dos maiores estudiosos da área cosmológica e física das partículas – vem a relatar os seus estudos acerca da fantástica infinitude do universo. O novo livro de Greene promete ser acessível e de fácil compreensão para aqueles que, desde cedo, anseiam pela compreensão misteriosa dos cosmos. 

Editora: Companhia das Letras
Páginas: 456
Tradução: José Viegas Jr.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Hey, Lolita, hey!


Por Carlos Gabriel F.


Lolita Pille, na beira dos seus trinta anos, talvez seja uma das escritoras francesas mais lúcidas desses tempos de desassossego contemporâneo. A autora causou um alvoroço na esfera literária com seu primeiro livro, “Hell – Paris 75016” (2003) – como se uma Darren Aronofsky na escrita, Lolita critica a liquidez dos laços joviais: com suas drogas subjetivas. Na eterna capital das luzes, com detalhes arquiteturais tão românticos, a autora nos leva através da vida de parisienses ricos submersos em sintéticos, grifes e festas noturnas. A sinceridade cotidiana de Lolita é marcante; edificando em páginas em branco o seu alter-ego a ser imponentemente exuberado. 

Não diga que a felicidade é efêmera. A felicidade não é efêmera. O sentimento que se sente e é tomado como felicidade quando se está apaixonado, quando se teve sucesso em alguma coisa, é uma liberdade condicional antes de conhecer a pena: o ser amado não se parece com nada, o que você conseguiu não serve pra nada. Isso não a faz infeliz, mas consciente. A felicidade não acaba, ela se retifica.

Com a sua fama veio os dois livros adjacentes, “Bubble Gum” (2004) e “Crépuscule Ville” (2008). Fazendo várias referências a clássicos da literatura, como o pacto faustiniano de Goethe, Lolita traz a tona a vontade complexa de se tornar importante e ídolo de tantos — como se a vida fosse um filme, seus personagens tramam uma história preenchida de contra-regras e vidas separadas, em uma angústia marcante e subjetivamente ultrajante. Seguimos com suas referências apocalípticas totalitárias e tentando entender em pensamentos o verdadeiro significado de “humanidade”. 

Nós inventamos a luz para negar a escuridão. Colocamos as estrelas no céu, plantamos postes a cada dois metros nas ruas. E lâmpadas dentro de nossas casas. Apague as estrelas e contemple o céu. O que você vê? Nada. Você está diante do infinito que seu espírito limitado é incapaz de conceber, de forma que você nada mais enxerga. E isso o angustia. É angustiante estar diante do infinito. Fique calmo; os seus olhos sempre encontrarão as estrelas obstruindo a trajetória deles e não irão mais longe. De forma que o vazio dissimulado por elas será ignorado por você. Apague a luz e arregale os olhos ao máximo. Você nada verá. Apenas a escuridão, a qual é mais percebida do que vista por você. A escuridão não está fora de você, ela está em você.

sábado, 23 de junho de 2012

O Leão, a Feiticeira e a Bíblia.

Por Arthur Franco

Depois de falar de O Sobrinho do Mago, venho falar da próxima crônica na ordem de leitura e da primeira a ser publicada por C. S. Lewis. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa foi escrito na década de 40 e é certamente o livro mais conhecido das Crônicas de Nárnia, principalmente pela adaptação cinematográfica da Disney em 2010.


Essa crônica narra a história dos quatro irmãos que, para fugir dos bombardeios a Londres, vão morar no campo, na casa do Professor Kirke. Lá PedroSusanaEdmundo e Lúcia descobrem um guarda-roupa mágico que os transporta para Nárnia, uma terra mágica com animais falantes e criaturas mitológicas, mas dominada pela Feiticeira Branca. A feiticeira usurpou o trono e congelou Nárnia por 100 anos. Cabe então aos irmãos encontrar Aslam, o leão todo-poderoso criador de Nárnia e o único que pode acabar com o inverno. 

As Crônicas de Nárnia são permeadas de elementos cristãos. C. S. Lewis era muito religioso e incutiu nos seus livros histórias e passagens que refletissem certos trechos da Bíblia. Nessa crônica encontramos alusões a traição de Judas Iscariotes, ao Apóstolo Pedro, questões sobre a ressurreição de Jesus, perdão e ao próprio Cristo, representado por Aslam. As referências cristãs são distribuídas ao longo do enredo, sendo bem inseridas por diálogos e passagens da obra.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Les Aventures de Tintin.


Por Arthur Franco

As Aventuras do Tintim é uma série de histórias em quadrinhos criada por Georges Remi, mais conhecido como Hergé. São ao todo 24 volumes, sendo o último, Tintim e a Alfa-Arte, inacabado devido à morte de Hergé. Entretanto, o álbum foi editado em 2008 e traz os croquis originais do autor para o que seria a última aventura de Tintim.

Hergé já se inspirava em histórias de intrigas internacionais antes de criar Tintim. Durante a Primeira Guerra Mundial, o autor rascunhava desenhos de um personagem que pregava peças em soldados alemães. Mas foi somente no Le Petit Vingtième, um suplemento para crianças do jornal em que Hergé trabalhava, o Le Vingtième Siècle, é que Tintim foi publicado.


Tintim é apresentado como um jornalista belga que viaja ao redor do mundo fazendo investigações. O seu companheiro é o cão fox terrier Milu, que vive em confusões, mas sempre salva o seu dono de enrascadas. Outros personagens são inseridos ao longo da série, como o Capitão Haddock, um marinheiro sarcástico e trapalhão; Dupond e Dupont, uma dupla de detetives gêmeos desajeitados; Trifólio Girassol, um cientista quase surdo que faz confusões com o que os outros lhe dizem; e Bianca Castafiore, uma cantora de ópera que sempre aparece quando os personagens principais menos esperam.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Hergé foi amplamente criticado por publicar As Aventuras de Tintim em um jornal controlado pelos nazistas (uma vez que o jornal em que as histórias eram anteriormente publicadas foi fechado por Hitler). As tramas escritas nessa época são politicamente neutras, como vemos em O Segredo do Unicórnio e O Tesouro de Rackham o Terrível.

A fama de Tintim não se deu apenas aos quadrinhos. Desde a sua criação, o personagem já foi tema de diversos produtos, entre eles camisas, jogos de tabuleiro e video games, baralhos, selos, entre outros. Duas séries televisivas já foram feitas: Les aventures de Tintin, d'après Hergé, de 1961; e As Aventuras de Tintim, de 1991, versão que fez muito sucesso e consagrou o personagem em animação. Cinco filmes já foram produzidos: Tintim e o Mistério do Tosão de Ouro, de 1961; Tintim e as Laranjas Azuis, de 1964; Tintim e os Prisioneiros do Sol, de 1969; Tintim e o Lago dos Tubarões, de 1972; e As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne, de 2011.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Symphonia #1

Por Carlos Gabriel F.

Para ler é preciso imaginar, desprender-se das correntes realísticas e deixar-se levar pela atmosfera do surrealismo. Ler por simplesmente é viajar através dos cosmos, buscar o inacessível e ver-se caracterizado em datilografias vorazes. E a música me ajuda bastante, permite-me afundar em devaneios ilógicos da literatura. A partir das escolhas corretas, do volume distante e do ambiente ideal é possível transcender ao combinar as duas sensações. É por isso que inauguramos hoje a nova seção do blog: Symphonia – músicas simplisinhas que podem agradar a leitura ou qualquer momento do dia; para fazer de trilha sonora as aventuras que você está prestes a encontrar.

sábado, 16 de junho de 2012

Elementar, meu caro espectador.

Por Arthur Franco

Alguns dos melhores livros que já li vêm da Inglaterra. O ambiente britânico, a culinária, a psicologia dos personagens, tudo parece culminar numa literatura exima, mágica e altamente cativante. E aparentemente os seriados oriundos desse país seguem o mesmo critério de produção.

Desde 2010 passei a acompanhar uma série inglesa que traz como personagem principal o detetive britânico mais famoso do mundo literário (dividindo esse posto talvez com Hercule Poirot): Sherlock Holmes.

Criação do célebre Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes, teve a sua estréia no livro Um Estudo em Vermelho, publicado no fim do século XIX. O detetive ficou famoso pelo seu método dedutivo e lógico e pela resolução dos casos mais impossíveis, sendo protagonista de quatro romances e de mais de 50 contos. Sua fama é indiscutivelmente proporcional a sua inteligência e o personagem já foi objeto de diversos filmes. Mesmo pouco tempo depois da sua criação, o detetive já possuía uma legião de fãs. Prova disso foi a quantidade de cartas que Conan Doyle recebeu quando decidiu matar Sherlock em um dos contos.  

A série supracitada recebeu o nome de Sherlock e estreou na metade de 2010. Com Benedict Cumberbatch como Sherlock e Martin Freeman como Dr. Watson, a produção retrata o detetive nos dias atuais, mas ainda vivendo em Londres e solucionando casos improváveis com a sua brilhante mente. Com apenas duas temporadas, que juntas somam seis episódios (de uma hora e meia cada), a série se baseia essencialmente nos escritos de Conan Doyle. Dois dos romances protagonizados pro Sherlock já ganharam episódios: Um Estudo em Vermelho e O Cão dos Baskervilles.


Com uma produção excelente e a interpretação de um Sherlock meticuloso e adequado, a série consegue tanto evocar o clima de mistério e inexplicável presente nas brochuras quanto a arrogante personalidade de Sherlock. Um prato cheio para quem gosta do detetive.

Curiosidade: a frase “Elementar, meu caro Watson”, nunca foi proferida por Sherlock Holmes em nenhum dos romances nem dos contos. A sentença aparece um filme de 1929 intitulado O Retorno de Sherlock Holmes e depois disso caiu no vocábulo popular. 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Eros: o deus do amor.


Por Carlos Gabriel F.

Em época de modernidade líquida, onde tudo se esvai em incoerência e falta de permanência, o mais importante, talvez, seja entender os sentimentos, suas origens filosóficas e o que se transmite no âmago humano – as suas conexões e por que mágoas se tornam lúcidas em tão rápidos momentos. Auto-ajudas não me agradam: suas formas editoriais de me sucumbirem à felicidade alheia não me condiz, de me ditarem passos a seguir adiante para evitar o sofrimento hodierno não me afaga. Na necessidade de escolha e no vislumbre necessário de entender, voltei-me ao passado: não para tomar um anacronismo, mas porque acredito que na Grécia Antiga se encontra tantas repostas para as vivências diárias contemporâneas.

Acabei-me por ver em mãos com um livro barato, com o título “O Banquete”, de Platão. Tão falado e respeitado Platão. O livro de bolso com poucas noventa e seis páginas trama um diálogo entre o autor e outros sete interlocutores – que são: Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes, Agaton, Sócrates e Alcibíades –, em uma discussão acerca de Eros – “Seria Eros o deus mais novo ou mais velho? Traz ele em si a dualidade do nobre ou do vulgar? Ou seria elemento de equilíbrio? Temos metades a que buscamos incessantemente? E a função social do amor? Se há, qual seria?”.

“O Banquete” é uma sincera conversa entre consciência e caminhos trilhados durante uma vida. As metáforas gregas, os entendimentos do deus Eros, contribuem não apenas para a formação romântica de uma pessoa, mas também o amadurecimento de uma ideia: é um tributo literário a fim de distinguir os diferentes sentimentos e suas verdadeiras essências. A filosofia distribuída me dá calafrios, faz-me chegar à um patamar de conhecimento que alguns livros, com suas ideologias marcante, não me permitiriam apreciar. 

Quando lhes acontece encontrar sua outra metade, sentem-se de tal maneira ligados pelas afinidades de simpatia e do amor, porque não é a lascívia que os leva assim comprazer-se na vida em comum. É evidente que suas almas aspiram a alguma outra coisa que não se pode traduzir em palavras, mas que se adivinha e dá a entender.”

terça-feira, 12 de junho de 2012

O mago da literatura.

Por Arthur Franco

Ás vezes, na nossa trajetória literária, nos deparamos com um gênio, capaz que criar na nossa mente a melhor fantasia, aquela na qual ainda vivemos um pouco depois de fechar o livro.

Na minha passagem pela literatura já me deparei com vários gênios, mas C. S. Lewis foi um dos que mais me fez crer no seu mundo de ficção.

Em 7 crônicas, Lewis fez um mundo, o seu mundo de fantasia, mas que cria uma pequena Nárnia no coração de cada um que lê a sua obra.  As crônicas foram 7, mas as horas de entretenimento e felicidade com a mitologia de Nárnia foram muitas.

A minha crônica preferida não é nenhuma daquelas que ganhou a adaptação da Disney. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, Príncipe Caspian  e A Viagem do Peregrino da Alvorada foram muito bem adaptadas para o cinema e constituem crônica incríveis, mas a minha predileta continua sendo O Sobrinho do Mago.


A sexta crônica escrita pro Lewis (sucedida apenas por A Última Batalha) é a primeira na ordem de leitura.  Aqui encontramos a criação de Nárnia por Aslam, que através da sua voz cria tudo e todos no país fictício. Temos Digory Kirke e Polly Plummer, dois amigos que acidentalmente vão parar em Nárnia e libertam a Feiticeira Branca. Também descobrimos a origem do guarda-roupas utilizado pelos irmãos Pevensie para chegar a Nárnia em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.  O mais curioso dessa crônica talvez seja descobrir como surgiu o lampião do Ermo do Lampião.

C. S. Lewis criou uma mitologia imensa, com personagens cativantes e dignos de nossa admiração e fidelidade. Foi certamente um mago na escrita, capaz de nos transportar para um universo paralelo através das palavras.

domingo, 10 de junho de 2012

Reunindo amores.

Por Carlos Gabriel F.

Depois dos livros, provavelmente meu segundo romance seja a sétima arte. Sentar em uma cadeira de cinema vazio, esperar pelo começo das cenas, para então cair em uma felicidade imagética tão sobrenatural. Gosto de como alguns diretores conseguem colocar em sua essência verborrágica aquilo que transcende em mim: características que eu imaginava existentes apenas no meu âmago, ali, representadas, na tela que alguma hora se  dá por finalizada.

E quando estes dois pares românticos se unem, o filme e o o livro, fico em êxtase.


É isso que David Gilmour faz em “O Clube do Filme”. A história, verdadeira, perpassa seus tempos difíceis sem um emprego fixo e com problemas de educar o filho de quinze anos, que parece cada vez mais diante a falência — o garoto não gosta de ir a escola e tem reprovado em todas as matérias. É aí que surge a aposta de um pai aflito que necessita ver o filho em outro caminho. O acordo é concretizado quando o  garoto não necessitaria mais ir a escola se assistisse, durante a semana, três filmes.

A diferente aposta resulta no livro de David. A brochura nada mais é do que a narração do crescimento de enlaço entre pai e filho; da necessidade de encontrar outros meios para educar àqueles que porventura mais amamos. Namorei “O Clube do Filme” em diversas vezes, mas só tive oportunidade de lê-lo recentemente e fiquei encantado com a artimanha do autor de conseguir descrever criticamente o melhor (e o pior) do cinema mundial: desde “Amor à queima roupa” até “Bonequinha de luxo”, “O nome do jogo” e “O iluminado”.

O entremeio de David, a tentativa de se dar bem diante a sua prole, é construída de forma marcante, ressalvando com sinceridade como é difícil crescer, adquirir responsabilidades; como películas podem tramar um importante papel na vida nostálgica do ser humano e como ver o filho crescer é se despedir diariamente de fases que ficam presas no passado.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Revenge.


Por Arthur Franco

Uma mulher vai para a prisão após ser enganada por um homem  e depois de muitos anos se vinga. Pode parecer o enredo de uma série ou de uma novela, mas é mesmo um livro de Sidney Sheldon.

A obra em questão hoje é Se Houver Amanhã, de 1986. A narrativa traz Tracy Whitney, mulher que parecia ter tudo na vida: um noivo rico, carinhoso e de boa posição social; um ótimo emprego e um filho a caminho. Mas sua sorte muda quando sua mãe, enganada por um golpista da máfia, comete suicídio. Tracy, querendo vingar a morte da mãe, se vê em uma cilada criada pelo mafioso Anthony Orsatti e acaba indo para a cadeia. Seu noivo a abandona, com medo de que seu nome fique sujo.


A prisão é um lugar violento e só inflama em Tracy o desejo de vingança. Após ser violentada e perder o filho, ela faz de tudo para sair do inferno que é a Penitenciária Meridional de Lousiana para Mulheres. Após conseguir que sua pena seja reduzida, ela vai em busca da tão desejada vingança contra aqueles que a colocaram na cadeia. O final do livro contém uma reviravolta, uma diferenciação na vida de Tracy que traz um fechamento não esperado pelo leitor. 

Como em outros livros de Sheldon, temos a presença constante de mulheres e uma grande decepção/tragédia. Esse é sempre o elemento chave para transformação das protagonistas em verdadeiras guerreiras que clamam pela vida que desejam. Um livro ligeiro, fácil de ler e que a cada virar de página desejamos saber o que vem a seguir. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Definição de "ansiedade".


Por Carlos  Gabriel F.

Esperamos tanto por uma nova publicação de nosso autor preferido que nossas pernas se tornam líquidas quando a esperança pela nova leitura se torna lúcida. Festejamos de pés doloridos pela nova degustação (que seja rápida e dure o tempo suficiente para se tornar inesquecível!) literária a ser feita. Almejamos com a alma pelo desconhecido que salivamos por tanto tempo pelo inesperado. O novo livro de Carlos Ruiz Zafón chegou recentemente ao Brasil e mal posso esperar para visualizá-lo em contato com minha epiderme.


O Prisioneiro do Céu” traz ao lume os protagonistas do primeiro da série, “A Sombra do Vento” (2001) – com o patamar de treze milhões de exemplares vendidos –, Daniel Sempere e seu fiel amigo Fermín. A história, que tem sua gênese um ano após o casamento de Daniel e Bea, começa quando um desconhecido adentra na livraria da família e anseia por adquirir a brochura mais cara do local: “O conde Montecristo”, mantido trancada sob uma cúpula de vidro. 

O mistério sui generis de Zafón começa quando o homem deixa uma dedicatória nas páginas do livro à Fermín, “Para Fermín Romero de Torres, que retornou de entre os mortos e tem a chave do futuro”. Dá-se, então, um ponto de partida que promete convergir os mundos de “O Jogo do Anjo” (2008) e “A Sombra do Vento”. Daniel e Fermín lutarão contra a revelação de um segredo que é mantido na cidade há mais de duas décadas, no coração da cidade. A história vaga desesperada em sentido àquilo que os personagens mais temem: as sombras que crescem dentro de si próprios.

O modo único de Zafón aparece mais uma vez aqui com a promessa de unicidade emocional. Comprei o livro em uma loja on-line ainda esta semana e espero na ansiedade de cativação – que já se tornara absoluta em minha dignidade de motivação. A história já me parece tão formulada que a valorização com cinco estrelas é quase que certeira. Que seja assim feita nossa vontade.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Por favor, leia.


Por Arthur Franco

- Paulo Coelho? Só sabe escrever auto-ajuda. E nem sabe escrever direito.
- Mas você já leu algum livro dele?
-Bem, não...

Essa é uma situação que qualquer leitor já deve estar habituado. Quantas vezes você já ouviu alguém falar que um livro/autor é ruim sem ao menos ter lido a primeira palavra?

Uso aqui o exemplo de Paulo Coelho, entre milhares de outros, porque o autor parece ser preferência nacional de crítica, principalmente pela parte daqueles que nunca leram nenhuma página dos seus livros.

Chegamos a um ponto que Machado de Assis é chato demais, Stephenie Meyer não sabe escrever, Dan Brown é mentiroso, Dostoievski escreve muito complicado.  Nunca tivemos tanto acesso à literatura, seja ela online ou física, e nunca criticamos e comentamos tanto. Ótimo, quanto mais lemos, melhor; e quanto maior e ampla a discussão das obras literárias, melhores pessoas nos tornamos.  O problema é quando pessoas trazem comentários falsos sobre livros, opiniões roubadas de outros leitores, tiradas do facebook ou de um review no jornal.

Antes de compartilhar uma opinião alheia sobre uma obra, tente lê-la. Se não o fizer, tente ao menos folheá-la, ler alguns trechos. Cada pessoa, inserida no seu universo simbólico, com as suas regras e preferências, lê cada livro de um jeito. A mesma pessoa que acha Eça de Queirós irritante pode achar Mário de Andrade o melhor escritor do mundo. E você, que não gosta de best-sellers, pode achar George R. R. Martin fascinante. 

sábado, 2 de junho de 2012

Devaneio medieval.

Por Carlos Gabriel F.

Gosto do medievo, daquilo que me transporta para a idade das trevas e me faz protagonista de ideias que não por mim foram concebidas. Gosto da medievalidade e de como seus costumes culturais eram de absoluta diferença desta contemporaneidade na qual sobrevivemos. Admiro aquelas construções de pedras acinzentadas com bandeiras na haste decorativa, arquitetura aconchegante, e janelas para o oceano que vaga pelo infinito. De todas narrações, prefiro a dos reis e rainhas, das guerras de elmo prateado e um guerreiro em despedida de sua querida amada. Gosto tanto das tragédias e das mulheres que lutavam pelo feminismo mesmo em tempos difíceis de escolhas. E ninguém melhor para nos conduzir através destas tramas do que Ken Follett e algumas de suas publicações expansivas. "Os Pilares da Terra" e "Mundo Sem Fim" me levaram através de suas histórias belas e me fizeram de experimento no campo medieval: vi-me apaixonado pela primeira vez pelo processo histórico - que muitas das vezes é deixado no limbo por outros autores. 


Nos seus condados, os pequenos personagens ganham grandes histórias e edificam-se ao transcendentalismo por meio de suas operações. Caris, Gwenda, Martin e Ralph de seus universos ociosos sem fim, de status sociais tão divergentes, veem-se em igualdade quando observam o inesperado. Viver neste mundo medieval com os personagens faz de nós, leitores devoradores frios, verdadeiros observadores natos de como é possível uma mudança radical - de perseverança na vã possibilidade de que o futuro seja diferente. Gosto do medievo, das semelhanças e possibilidades em trazer para o cotidiano aquilo que é narrado de eras passadas: somos o pretérito, o longínquo, a liberdade de escolha, a literatura plena e fugaz. Ken Follett, meu favorito, sabe fazer desse contexto algo de adoro atual e é ele a minha dica de devaneio para a próxima leitura a ser realizada, a ser conquistada e lida com o coração na mão e cabeça nas nuvens pela percepção de um sonho histórico já passado. (Ou até mesmo para presentear no dia dos namorados!)