sábado, 31 de março de 2012

Livros para se adentrar no mundo de Agatha Christie - Parte II

Por Arthur Franco 
 
Dizem que seus livros só não foram mais traduzidos do que a Bíblia e as obras de Shakespeare. Com mais de 80 romances publicados, Agatha Christie me conquistou ainda na adolescência, com meus 15 anos e tempo de sobra para ler. Era mais de um livro por semana: nas aulas, em casa, na rua, em qualquer espaço de tempo livre, estava eu com alguma obra ‘agathachristiniana’ embaixo do braço. As tramas muito bem estruturadas e a variedade de motivos/armas/circunstâncias foram as pedras angulares para que meu coração desenvolvesse uma paixão por Christie. Os personagens, todos com o psicológico quase que ‘analisado’ ao longo das histórias, cativavam e sempre levavam a procurar mais um volume. 

Como o volume de obras escritas por Agatha Christie é imenso, seleciono aqui mais 5 obras que recomendo e nomeio como algumas das melhores, baseados em fatores subjetivos e em variáveis como circunstâncias do crime, táticas utilizadas, originalidade e construção da trama. Confira aqui a primeira parte dessa lista!  

 
Cipreste Triste (1940)

Detetive: Hercule Poirot

A dúvida se o personagem morreu de causas naturais durante o sono ou foi assassinado é um recurso que Agatha utiliza com frequência. Aqui temos a morte de uma senhora, que todos julgam que morreu de causas naturais. Mas um vidro de morfina sumiu da maleta de uma enfermeira. E pouco tempo depois a jovem Mary Gerrard aparece morta. Elinor Carlisle, sobrinha da primeira vítima e rival da segunda, é condenada a morrer na forca. Hercule Poirot ainda acredita que a moça não cometeu os crimes e vai correr contra o tempo para tentar provar sua inocência. 

"E em triste cipreste deixe-me repousar; Voe para longe, voe para longe, suspiro; Por uma donzela bela e cruel sou destruído."


 
A morte da Sra. McGinty (1952)

Detetive: Hercule Poirot

A senhora McGinty é encontrada morta em sua casa. A causa da morte: uma pancada na cabeça com um objeto pontiagudo e pesado. Um suspeito já foi condenado e está prestes a ser enforcado. Mas o superintendente Spence não está convencido de que aquele pobre rapaz é o real assassino. Chama então o seu velho amigo Hercule Poirot para tentar descobrir porque alguém haveria de matar uma simples diarista. Poirot vai contar com a ajuda da sua amiga Ariadne Oliver para tentar solucionar um dos melhores casos da sua carreira.   

"A Sra. McGinty morreu!” - “Como foi que ela morreu?'' - “Dobrando um joelho assim como eu!"


 
Um crime adormecido (1976)

Detetive: Miss Marple

A última aventura de Miss Marple foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial, mas ficou trancada em um cofre até 1976, sendo lançado somente após a morte da escritora. O enredo acompanha Gwenda Reed e seu marido, que recentemente se mudaram para a Inglaterra. Gwenda tem certeza de que nunca morou em solo britânico, mas tem a impressão de que conhece a casa onde mora. Uma determinada frase de uma peça teatral desperta na garota a imagem de uma mulher assassinada, bem ao pé da escada de sua nova casa. Miss Marple, que também estava no teatro, vai tentar descobrir se realmente houve um crime, sem se lembrar de que, quem matou uma vez, pode matar de novo. 

"Cubram seu rosto, ela morreu jovem..."

 
O Assassinato de Roger Ackroyd (1926)

Detetive: Hercule Poirot

Esse foi o primeiro grande sucesso da autora devido ao seu final polêmico. Muitos consideram que Christie não se utilizou das regras convencionais dos romances policiais, mas com toda certeza ela criou um desfecho inesperado e inédito até então. Poirot agora está aposentado e se dedica a plantar abóboras em uma pequena vila. Tudo vai bem até que o dono de uma grande propriedade local, Roger Ackroyd, é apunhalado e encontrado morto em seu escritório. Poirot toma frente à investigação e, com a ajuda do Doutor Sheepard, grande amigo do falecido, tenta encontrar a verdade em um mar de pistas falsas.  

"Caminhamos juntos a estrada que trilhei sozinho."


 
Assassinato no Expresso do Oriente (1934)

Detetive: Hercule Poirot

O final total imprevisto e não convencional talvez tenha transformado essa obra na mais famosa de Christie. Novamente encontramos as marcas tão utilizadas pela autora: um assassinato em um lugar fechado por dentro e diversos suspeitos, todos muito bem delimitados. Dessa vez o ambiente é uma cabine no luxuoso trem Expresso do Oriente, na qual a vítima foi encontrada. A reviravolta acontece quando o detetive descobre que o morto foi parte integrante no rapto e morte de uma criança, anos atrás. Pistas falsas surgem a todo o momento e todos têm um álibi perfeito. Mas Poirot utiliza suas células cinzentas e vai propor não uma, mas duas soluções. 

"- Senhor Hardman, quer ter a bondade de reunir todos os passageiros aqui? Há  duas soluções para o caso: quero expô-las diante de todos." 


quinta-feira, 29 de março de 2012

O pijama (in)desejado.


Por Carlos Gabriel F.

Bem diria que em tempos de guerra, quem desconhece o caminho da inocência é rei. Bem diria Bruno que o que lhe importava nos tempos passados era uma casa grande para brincar com seus amigos e uma imaginação inigualável para determinar quando seria hora de parar. É sobre uma amizade nunca antes testemunhada que “O Menino do Pijama Listrado” vem a relatar: a inconcebível amizade entre aqueles que, numa época irracional perseguição e mudanças repentinas, gostariam tanto de diversão. 

John Boyne constrói, sem apelações ou narrações macabras, a história de Bruno, o menino aventureiro que, como já bem dito, deixa Berlim e parte rumo a uma região desolada, sem laços fraternais, para se deparar com a realidade de uma Alemanha em época de Holocausto. Do seu novo quarto era possível assistir àqueles que, para além da cerca, vestiam pijamas e davam-lhe frio na barriga. 

É numa de suas andanças pelas redondezas – porque com o tempo a casa se torna pequena, não há mais espaço e bem menos colegas para se brincar de dias de glória –, que Bruno se encontra com o menino de nome engraçado: Shmuel. Ele está para além da cerca, naquele lugar, que diz ele, o deixa fraco perante tanto trabalho; seu pai era trabalhador, dos simplistas, e vieram parar ali por uma ideologia que adotaram por gerações.  

A inocência de Bruno é marcante junto à sua alegria em ajudar àquele que toma como novo amigo. Nas peripécias da narração de Boyne, vemo-nos na vontade prematura de que, ao final, ambos os meninos consigam tramar uma fuga da realidade cruel e brinquem, por eras indefinidas, na imaginação que criarem. Somos tomados pelo sentimento da inocência, assim como dos personagens: apaixonamo-nos por Bruno e Shmuel nos seus tempos desesperada de sobrevivência.

A película lançada em 2008 e dirigida por Mark Herman é bem fiel à história original. A leitura, entretanto, torna-se quase que obrigatória. A fábula ditada rapidamente por John é de tamanha magnificência, transformando o inesperado em realidade literária, que é impossível não se emocionar ao final. Um final trágico mas de uma ideologia fantástica e necessária. É preciso consumir o livro, imaginar-se no lugar dos personagens cativados e pensar se faria diferente: se, naquela época de contexto diferente, tornaria a sua história divergente, se tomaria um pensamento diferente, se ajudaria aqueles que necessitavam de ajuda.

terça-feira, 27 de março de 2012

Mochilão com Júlio Verne.


Por Arthur Franco 

Com a evolução da ciência e o impacto das inovações tecnológicas do século XIX, a ficção científica encontrou um ambiente fértil para nascer. Robôs, andróides, viagens no tempo, vida em outros planetas: tudo que envolvia as novas ciências e o desenvolvimento nos campos da física, biologia, astronomia, entre outros, era digno de enredo de obras literárias. Foi nessa atmosfera de progresso que Júlio Verne se destacou e se consagrou como uma dos maiores autores de ficção científica.

Verne tinha uma imaginação fértil. Escreveu sobre máquinas voadoras, submarinos, viagens à Lua e ao centro da terra. É um dos autores mais traduzidos em todo o mundo e até hoje cativa leitores com suas histórias extraordinárias e repletas de elementos fantásticos. 

A Volta ao Mundo em 80 Dias foi originalmente publicado em 1873. Verne já era conhecido nessa ocasião, uma vez que seus livros anteriores tinham feito muito sucesso com o público. Nessa nova obra, o autor propõe uma tarefa que parecia impossível naquele dias: dar a volta ao mundo em 80 dias. Em um tempo em não havia aviões, era necessário viajar de trem ou de navio. Quem tentará tal façanha é Phileas Fogg, personagem criado pelo autor e protagonista do livro. Fogg é um cavalheiro inglês que, apesar de muito rico, vive uma vida regrada e sem muitas aventuras. Tudo muda quando ele sugere aos cavalheiros do seu clube, o Reform Club, que é possível dar a volta em 80 dias. Todo o cronograma de viagem já estava na cabeça do protagonista, e assim ele o expôs aos seus companheiros: 

De Londres - a Suez - paquete e caminho-de-ferro - 7 dias
De Suez a Bombaim – paquete - 13 dias
De Bombaim a Calcutá - caminho-de-ferro- 3 dias
De Calcutá a Hong Kong – paquete - 13 dias
De Hong Kong a Yokohama – paquete - 6 dias
De Yokohama a São Francisco – paquete - 22 dias
De São Francisco a Nova Iorque - caminho-de-ferro - 7 dias
Nova Iorque - Londres: paquete, caminho-de-ferro - 9 dias

Total: - 80 dias

Ninguém acredita nessa possibilidade. Fogg então propõe que ele mesmo dará a volta ao mundo em 80 dias e que, no dia 21 de Dezembro, às 08h45min da noite, estaria de volta ao Reform Club. Ao lado do seu criado Passepartout, Mr. Fogg vai embarcar em uma viagem que mudará o seu destino e que transportará o leitor aos quatro cantos do mundo. No seu enlaço, o Detetive Fix, que acredita que o protagonista assaltou o Banco da Inglaterra. 

O livro fez sucesso no seu lançamento, já que as pessoas não tinham tantas oportunidades de viajar no século XIX como hoje. Verne trouxe então as culturas, as vivências e os costumes dos mais variados povos e países para a literatura, acessível a qualquer um e a qualquer momento.

A obra já foi amplamente adaptada para os mais diversos meios. Talvez as mais famosas sejam a minissérie televisiva com Pierce Brosnan no papel de Mr. Fogg  e a adaptação cinematográfica com Jackie Chan  no papel principal. Entretanto, essa última versão é quase que uma releitura da obra, já que tem um tom cômico e possui alguns pontos divergentes do romance. 

domingo, 25 de março de 2012

Sobre conquistas, necessidades e romances.


Acompanhem-me e anotem os seus novos desejos (consumistas) literários!

Garotas Perdidas” é quase que como um “A Volta ao Mundo em 80 Dias” contemporâneo. É assim que Jennifer Baggett, Holly C. Corbett e Amanda Pressner iniciam, frente a um lugar inusitado, as Cataratas do Iguaçu, uma nova empreitada. É ali, naquele local circundado de tanta magia natural, que as amigas decidem deixar para trás suas conquistas e perder-se em um devaneio – uma viagem na circunferência do mundo. Baseando-se na experiência das três autoras, contatamos aqui a história de três mulheres que ansiavam pelo novo, mesmo que isso trouxesse consequências para seus relacionamentos amorosos e lócus operacional. A cada capítulo há de se deparar com uma nova aventura, de modo a inspirar os leitores com os diversos lugares descritos e belas imagens formadas na consciência humana. “Garotas Perdidas” é uma história de reconquistas e percas. 

Editora: Rocco
Páginas: 544


Ele nada por necessidade. Ela por mero hobby. Com suas pinceladas que viajam pela paleta de cores entre o anil até o verde escuro, Bastien Vivès narra uma bela história lírica, seja com sua arte da escrita ou dos desenhos. O garoto, anônimo no meio de desconhecidos, vê-se apaixonado por essa doce menina, que modo ou outro lhe ajudava nos momentos da natação na piscina pública. Ele com escoliose e ela com a distração. “O Gosto do Cloro” retrata a introspecção marcante de um personagem que se relaciona com o inesperado e com o indeterminado – a pura história de laços que traçamos casualmente ao longo da vida, acompanhado por um cenário lisérgico de minimalismo, onde nos vemos inseridos e representados. “O amor não pode ser resumido em palavras”.

Editora: Barba Negra - Leya
Páginas: 144



“Eu deveria estar de luto, não me apaixonando”. É assim que Lennie Walker se descreve após a morte abrupta de sua irmã, Bailey. Em “O céu está em todo lugar”, de Jandy Nelson, lemos a história de superação daquela que tinha no centro de sua vida um relacionamento fraternal com quem lhe era mais próxima. Já bem dizia aquele poeta: o tempo não irá parar enquanto consertamos nossas feridas. A partir do momento que seus amigos seguiam em frente, Lennie via-se cada vez mais distante daquela realidade e do mundo em que outrora pertencia. Em seu ponto de fuga encontram-se seus dois amores, um que a tira da tristeza e outro que a consola. Nossa personagem principal trabalha para encontrar o seu ponto de equilíbrio na sua vida, que parece tanto estar desolada. 

Editora: Novo Conceito
Páginas: 424


sexta-feira, 23 de março de 2012

“Um policial de cortar a respiração”


Por Arthur Franco

Sou assumidamente fã de todo e qualquer tipo de romances policiais. As tramas bem amarradas, o suspense e a atmosfera criadas pelos autores de livros nos quais o leitor é levado a tentar adivinhar quem é o criminoso ocupam o lugar de destaque na minha estante. E é nessa categoria que Tess Gerritsen se enquadra. A autora americana (com ascendência chinesa, diga-se de passagem) é formada em medicina, mas é conhecida mundialmente por seus best-sellers policiais protagonizados pela detetive Jane Rizzoli e pela médica-legista Maura Isles. A emissora TNT transformou seus livros em uma série de televisão (muito boa por sinal!) chamada Rizzoli & Isles, que tem Angia Harmon e Sasha Alexander.

Rizzoli certamente não é o tipo de personagem que cativa o público, mas conforme sua história vai sendo desvendada, a detetive mostra que tem potencial para ser a próxima “Sherlock Holmes” ou até mesmo um “Poirot”. Já Maura tenta personificar o lado da razão, que tenta controlar o coração e ver o lado frio e coerente dos acontecimentos.  

O primeiro romance de Gerritsen que tive a oportunidade de ler foi A Pecadora. Com uma narrativa ágil, fácil de entender e que prende o leitor, a autora consegue fazer que a próxima página seja sempre mais interessante do que a anterior. O enredo se desenvolve a partir do assassinato de duas freiras, cujos corpos foram encontrados na Capela da Nossa Senhora da Luz Divina. As “irmãs” viviam em clausura, sem contato com o exterior. O caso se complica quando Maura, ao fazer a autópsia na irmã Camille, descobre que pouco antes de sua morte, ela deu a luz. Enquanto isso, um corpo mutilado é encontrado em um prédio abandonado. Existe alguma relação entre os homicídios? O suspense se concentra com o passar de cada linha e a investigação vai levá-las a ver que quem matou uma vez está sempre disposto a matar novamente. 

Interpondo uma investigação de um homicídio com o lado humano das investigadoras, a obra cativa tanto pela humanização dos personagens, que passam pelos mesmos acontecimentos que ordinariamente muitos sofrem, quanto pelo desenrolar da procura pelo assassino. Termos técnicos de medicina estão presentes em todo o livro e, ao invés de dificultar a leitura, fazem com que o leitor compreenda o que aconteceu e dá possibilidades e chances para que ele participe da investigação e, por conseguinte, resolva o mistério.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte V.

Por Carlos Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Confira a primeira, segunda, terceira e quarta!), que comecemos:

Estive relutando em colocar “Marcada” (2007) aqui nesta lista por motivos de: acanhamento literário. A série “House Of Night”, com já nove publicações, situa-se naquele nicho de histórias-que-surgiram-no-aglomerado-vampiresco que viemos acompanhando desde o estouro da saga “Crepúsculo”. A narração de P.C. Cast e sua filha, Kristin, não merecem, entretanto, o desprezo que às vezes recebem. O modo como trabalham a estilista é simples, de modo a se aproximar do público alvo: o infanto-juvenil. Encontramos aqui Zoey, uma menina ainda jovem que acaba de ser marcada – em outros termos: recebera em sua testa a marca da lua crescente, o que significa que foi escolhida para entrar na Casa da Noite, a fim de ser treinada como um vampiro. Engana-se que a trama é superficial e supérflua. Entramos, por meio da astúcia das autoras, no mundo de uma deusa feminista, que envolve magia e, sobretudo, os quatro elementos. Zoey irá se ver inserida em um novo contexto, preenchida pela nova perspectiva e diferentes anseios. Os livros consequentes traçam a nova identidade da garota, que enfrentará inimigos grandiosos e irá se tornar algo antes imensurável. 

“Eu busco força, não para ser maior que os outros, mas para lutar contra meu maior inimigo, que é a dúvida dentro de mim mesma.”

Ganhei “A Estrada” (2006) de meu pai e, pois bem, não haveria contexto melhor para o presente ser inserido. Cormac McCarthy nos transporta, por meio de uma narração incrivelmente bem detalhada, para um cenário pós-apocalíptico. Acompanhamos, por ora, um pai e seu primogênito no caminho para a costa, sem saber discernir os motivos que não a salvação necessária. Os humanos neste período vivem aos bandos, com a necessidade de sobrevivência, tanto perante o novo contexto quanto os assassinos que matam por motivos da condição ali submetida. É uma história sobre esperanças e união entre um pai e seu filho num mundo caótico. É sobre manter uma relação mesmo que em situações extremas.
“Eu disse ao garoto que quando você sonha com coisas ruins significa que você ainda está lutando e que ainda está vivo. E quando você começa a sonhar com coisas boas é a hora em que você deve começar a se preocupar.”

Feios” (2005) já esteve aqui, de fato, em tempos passados, numa resenha feita magnificamente por Arthur. O problema em questão é que não poderia deixar essa brochura de fora da lista que aqui venho traçando. Gosto de Scott Westerfeld e sua linha de pensamento que nos leva direto ao ponto. A metáfora neste livro traçada é de tamanha coincidência com o nosso cosmo social contemporâneo que considero o livro, apesar de ficção norte-americana, de grande necessidade a ser mensurada. Vivemos de estereótipos de belezas e atribuímos coerções àqueles que não seguem tais parâmetros. A crítica de Scott se baseia (aqui traçado superficialmente, mas neste post mais detalhado) nesse quesito jovial, na necessidade de se encaixar numa comunidade de estranhos. 
“A natureza, afinal, não precisava de uma operação para ficar linda. Ela simplesmente era.”



É sim, é sobre aquele filme de 2008 (horrível, diga-se de passagem) da Sessão da Tarde que num futuro-próximo irá ser transmitido com frequência na rede de televisão aberta. “Viagem ao Centro da Terra” (1864) segue o ritmo já conhecido de Júlio Verne aventureiro. O que tanto me impressiona aqui é a descrição dos métodos e objetos geográficos – gosto disso, da narração simplista daquilo que de outro modo não conheceria. Tudo começa quando Dr. Lidenbrock e seu sobrinho Axel tentam desvendar códigos escritos por alquimista do século XVI que, porventura, pode ter ido ao centro da Terra. A partir deste ápice, ambos os personagens tramam uma aventura a fim de descobrir as profundezas da crosta. Um clássico que merece ser lido! 
“A fabulous world below the world.”

Precisamos de mais detalhes sobre Zafón depois de “Marina”? Este foi o meu primeiro, o que me fez elucidar e marcar no cerne a minha paixão por esse homem. Em “A Sombra do Vento” (2001) vivemos com Daniel Sempere numa Barcelona de 1945 com suas visitas ao Cemitério dos Livros Esquecidos, uma extensa biblioteca secreta que opera como depósito de brochuras abandonadas ao redor do mundo. É neste universo paralelo que Daniel encontra A Sombra do Vento, data como de autoria de Julián Carax. É neste ponto que Zafón aproveita para fazer o que sabe de melhor: criar mistérios (e romances, claro). Viajando através do tempo, o nosso protagonista tenta solucionar o segredo acerca do livro encontrado. 
“Quanto mais vazio está, mais rápido o tempo passa.”



segunda-feira, 19 de março de 2012

Gabriel García Márquez e sua loquacidade fantástica.

Por Carlos Gabriel F.

“Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco”. E foi assim que me apaixonei por Gabriel.


Este colombiano que completou seus oitenta e cinco anos recentemente, no dia seis de março, já ganhou o mero Nobel de Literatura em 1982 por sua coleção de obras, contendo em seu âmago “Cem Anos de Solidão”. Talvez seja esta a palavra que defina Gabriel García Márquez: âmago – da facilidade de transpor em páginas as sinceras palavras de uma alma em desespero da vivência e fome de romance bem feito. Navegou no jornalismo por grandes períodos, que resultou, entrementes, em perseguições pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos. 

O realismo mágico em âmbito latino-americano também foi iniciado por esta, permita-me assim chamá-lo, criatura em magnificência. Em suas obras é comum a narração sensorial como parte do plano real, resultando numa narração distorcida, em que se mescla num ciclo o passado em uma verborragia fantástica do presente. Há uma preocupação estilística, em que se visa manter uma estética a fim de seduzir bons leitores – o que tanto me faz pensar, neste quesito, que Gabriel é o Saramago em terras americanas.

Entre os seus livros mais recentes, “Memórias de Minhas Putas Tristes” (2004) tem por destaque – vide o trecho afável supracitado. Nele temos o romance de um velho no auge dos seus quase noventa anos à procura de uma virgem para se dar enquanto presente de aniversário; é o relato surpreendente entre uma ninfeta e um ancião – o que tanto me faz recordar de “Lolita” de Vladimir Nabokov enquanto referencial – ; é a vontade feroz de fazer a vida valer a pena diante da morte iminente; da transformação da humanidade perante o amor verdadeiro. 

“Cem Anos de Solidão” (1967) e “O Amor nos Tempos de Cólera” (1985) também não devem ficar fora da leitura primaveril; retratam, igualmente, o quadro tão estilístico de Gabriel. Em algum momento de suas obras nos identificamos e nos vemos representados perante tamanho esplendor e gozo literário. Como já bem dizia: “É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver”. Que Gabriel García seja visto, lido, reescrito. 

sábado, 17 de março de 2012

Corrida pela vida.

Por Arthur Franco

Sidney Sheldon é certamente um mestre na escrita de obras de suspense. O autor acumula em seu currículo diversos romances, roteiros para filmes, peças para a Broadway e é considerado pela Guinness o autor mais traduzido do mundo. Além de seus livros de suspense, escreveu também para o público infanto-juvenil, como romances como O Estrangulador, Corrida pela Herença e O Ditador. Na maioria da suas tramas, as personagens femininas têm o papel principal, sendo representadas por protagonistas fortes, talentosas e decididas. O escritor afirmava que as mulheres têm um poder que os homens nunca terão: a feminilidade. E essa característica fazia com que ele explorasse de todas as formas a sensualidade feminina  e se debruçasse sobre as particularidades das suas heroínas em suas histórias.

Seu livro Quem Tem Medo do Escuro? foi lançado em 2004 e logo se tornou um sucesso de vendas. Como de praxe, a história tem um tom de suspense e uma trama que logo prende o leitor.

A narrativa se inicia com a descrição de mortes sem explicação que vêm acontecendo em Berlim, Denver, Paris e Nova York. Uma única conexão une as quatro mortes: todas as vítimas trabalhavam para a KIG, Kingsley International Group, uma empresa envolvida em pesquisas de armas militares, telecomunicações e questões ambientais. 

Diane Stevens e Kelly Harris, viúvas de duas das vítimas, são chamadas pelo chefe da KIG, Tanner Kingsley, que explica que a empresa não está poupando esforços para descobrir quem matou os seus maridos. Mas parece que a empresa decidiu agir tarde demais. Logo após a conversa com Tanner, as duas passam a ser alvo de diversas tentativas de assassinato. Envoltas agora em um jogo de gato e rato, as duas precisarão se aliar para descobrir porque seus maridos foram mortos e porque alguém não quer que elas permaneçam vivas.  

quinta-feira, 15 de março de 2012

Clássicos de uma infância: Coleção Vaga-Lume

Por Arthur Franco


Quem nasceu na década de 80 ou 90, certamente já ouvir falar da Coleção Vaga-Lume. Uma coleção de quase 100 livros publicados pela editora Ática especialmente para o público infanto-juvenil, com linguagem simples e histórias que não deixavam o leitor decepcionado. Quem não se lembra de A Ilha Perdida, de Maria José Dupré ou O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida.

O estilo das obras era variado: terror, policial, suspensa e até mesmo ficção faziam a diversão do público. Assim como eu, certamente muitos jovens leitores encontraram na Coleção Vaga-Lume a porta de entrada para o mundo da literatura e através dela adquiriram o gosto pela leitura. 

Listo aqui as cinco melhores obras da Coleção. Os critérios utilizados foram as memórias da minha infância e as horas de diversão e distração que os livros seguintes me proporcionaram. 





Primeiro foi Hugo "Foguinho”. Depois Clarence O'Shea. A seguir Maria Fernanda. Todos morrerem em circunstâncias misteriosas e aparentemente sem conexão alguma. Exceto pelo fato de todos serem ruivos, sardentos e terem recebido um escaravelho antes da sua morte.  Esse é a trama central de O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida. Ao todo, foram seis as vítimas do ‘inseto’, denominação dada ao assassino, e cabe a Alberto, irmão de Hugo, solucionar o mistério e impedir que outra morte aconteça.



 


Em O Mistério do Cinco Estrelas, de Marcos Rey, temos Léo, um mensageiro do imponente Emperor Park Hotel, luxuoso hotel localizado em São Paulo. Quando o garoto vê um corpo na lavanderia do hotel, tenta avisar a todos que um assassinato foi cometido. Mas ninguém acredita quando o corpo desaparece. E o que é a palavra de um mensageiro contra a de um hóspede do hotel? Junto dos seus amigos Gino e Ângela, Léo vai provar que alguém cometeu um crime e pretende fazer uma nova vítima.

 








Na sua segunda aventura, O Rapto do Menino de Ouro, também de Marcos Rey, temos Léo e sua turma envoltos em outro mistério. Alfredo, um garoto de 15 anos que já é um astro do rock, desaparece no bairro Bexiga, em São Paulo, enquanto ia para sua festa de aniversário. O desaparecimento do músico, conhecido como Menino de Ouro, atrai a atenção do trio de detetives, que vai fazer de tudo para encontrar essa estrela do rock.



 

 



Marcos Rey se afeiçoou ao trio formado por Léo, Gino e Ângela que lançou outra obra com a participação dos três: Um Cadáver Ouve Rádio. O assassinato de um pobre sanfoneiro é a peça chave da investigação do grupo de amigos. ‘Boa Vida’, como o músico era carinhosamente conhecido, era muito querido por todos. Mas quando seu cadáver é encontrado em frente a um rádio ligado, Leo, Ângela e Gino partem em busca da solução desse mistério e não vão descansar até que o assassino seja preso.








No interior do país, nasce um menino com asas no lugar dos braços. O Menino de Asas, de Homero Homem, traz a questão do preconceito e da discriminação para a literatura. Por ser diferente, o menino de asas é perseguido e deixado de lado. Será que ele conseguirá superar a rejeição e encontrará o amor e a amizade? Homero Homem coloca em xeque a questão da diferença e de como a vontade de superação pode mudar

terça-feira, 13 de março de 2012

Capitão Carter.


Por Carlos Gabriel F.

Comprei “Uma Princesa de Marte” (1917) porque retratavam no rótulo as seguintes palavras de James Cameron: “Em Avatar, pensei em um roteiro de filme de aventura, algo nos moldes de Edgar Rice Burroughs, como John Carter de Marte”. Havia assistido o filme recentemente e tomado como bom aquela aventura na terceira dimensão cinematográfica, que bem dizem foi uma revolução. Mal esperava eu que a brochura se tornaria película em breve.


Estreou semana passada em terras brasileiras o longa-metragem nomeado como “John Carter”, dirigido por Andrew Stanton (também responsável por “Toy Store” e “Procurando Nemo”), tendo como distribuidora a grande Walt Disney Studios e baseado na série “Barsoom” de Edgar Rice Burroughs (1875 – 1950), que tem em sua coleção onze livros. 

Ainda não assisti ao filme, confesso, para que fosse possível comparar as entrelinhas e entristecer-me com as modificações atribuídas ao longo da trama. Contando ao livro, é de impressionante a forma de sua narrativa. Começamos com uma carta do próprio Edgar, relatando minuciosamente a maneira como aquele manuscrito havia ido parar em suas mãos. Nela fala-se sobre nosso protagonista, John Carter, sua vida na Guerra Civil, características marcantes e falecimento. 

Logo após o primeiro capítulo, começamos a navegar pela escrita do Capitão Carter. Através das primeiras linhas percebemos a sua anormalidade em quesitos da condição humana. “É possível que eu tenha cem anos, talvez mais, mas não posso calcular porque nunca envelheci como os outros, ou sequer lembro de minha infância. Por mais que tente me lembrar, sempre fui um homem, um homem de uns trinta anos”. Daí, então, partimos adiante com a sua fuga de índios nas colinas do Arizona. Ao se refugiar em uma caverna, Carter não esperava uma viagem através dos cosmos. Tomado por uma energia indeterminada, o Capitão adormece, aos poucos, a fim de acordar, depois de horas, em terras estranhas.

A sua fuga mundana é a primeira das suas aventuras subsequentes. Estamos, por fim, em Barsoom – ou Marte, chame como bem quiser. São nesta terra de cultura tão diferente que Carter vem a tramar romances, batalhas sangrentas. Conhecemos por meio da escrita simplista o corajoso guerreiro chefe Tars Tarkas, a compassiva Sola e a princesa de áreas rivas Dejah Thoris. Encontramos em Carter, mesmo em terras tão distantes, aquilo que tanto prezamos: a nobreza, a coragem e lealdade daqueles que algum dia defenderam seus territórios.

A leitura de “Uma Princesa de Marte” é quase que obrigatória para aqueles que adoram ficção científica (tanto é que o livro já apareceu por aqui na primeira lista de “Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos”), em vista que o personagem criado no século passado por Edgar Rice ainda revoluciona, mesmo quase cem anos depois, a literatura.

domingo, 11 de março de 2012

"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.


por Arthur Franco 

Em 1945, George Orwell já escrevia obras atemporais. A fabulosa A Revolução dos Bichos é prova disso. O livro é uma sátira aos regimes de governo, principalmente ao comunista, representado na época por Stalin. Utilizando uma ‘fábula’, o autor critica a sociedade e mostra o lado ‘porco’ da humanidade. 

A história se passa na fictícia Granja do Solar, mantida pelo proprietário Sr. Jones. Lá são criados porcos, galinhas, cachorros, vacas, entre outros animais. O porco mais velho, nomeado Major, teve uma vez um sonho, no qual os animais eram auto-suficientes e viviam independentemente dos humanos. “Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso”, disse o porco. Esse novo tipo de sociedade seria chamado Animalismo. Seria uma sociedade paradisíaca, majestosa, onde os animais poderiam aproveitar o seu tempo livre e ninguém seria mais obrigado a conduzir carroças ou a produzir leite. O Major morre logo depois, mas a sua morte só serve para dar mais fervor e impulso à revolução. Depois de expulsar Jones e sua mulher da Granja, os animais tomam o poder e os jovens porcos Bola-de-Neve e Napoleão são os novos comandantes da então recém criada Granjas dos Bichos. A vida agora era outra: os animais iriam aprender a ler, a escrever, teriam datas comemorativas, criariam uma bandeira e instituiriam sete mandamentos: 

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

Os mandamentos se congregavam em uma máxima que era constantemente repetida pelos animais: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”. As ovelhas, como que para acreditar nesse aforismo, repetiam quase que automaticamente. Essa prática se assemelha àquela usada pelos comunistas: criação de slogans para a repetição continua e de fácil memorização. Mas os porcos são como os homens: sedentos de poder e de controle. Depois de um desentendimento, Napoleão expulsa Bola-de-Neve e torna a vida dos animais um terror: nenhum deles tem mais poder de voto, as horas de trabalho são maiores e a comida é cada vez mais racionada. Napoleão é o ditador e os animais são seu povo, alienados e convencidos por argumentos cínicos e fingidos; são entretidos por uma televisão colocada no celeiro e acreditam que tudo de horrível que acontece na granja é culpa do desertor Bola-de-Neve. 

Cinco anos é o tempo que Napoleão já está no poder. A maioria dos antigos moradores já morreu, e os novos só conhecem essa realidade opressora, em que a vida se resume a trabalhar e trabalhar. Os sete mandamentos foram uma vez escritos na parede do celeiro, mas como nenhum dos animais sabe ler (exceto o burro Beijamin), nenhum deles notou as mudanças ao longo dos anos:

4. Nenhum animal dormirá em cama com lençóis.
5. Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6. Nenhum animal matará outro animal sem motivo.


Os porcos já vivam na casa de Jones e andam com chicotes nas patas. O comércio entre homens e os ‘donos’ da Granja dos Bichos era freqüente. Caixas de whisky chegavam aos montes. Em uma das reuniões entre os porcos e os homens, os animais espiavam pela janela da cozinha. A cena que viram era grotesca, a tradução da violação do último mandamento, que passará a ser “Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros”. O que os animais viram é descrito na última cena do livro, provando que os homens, quando na busca por poder, podem se tornar 'animais': “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.

A revolução do título é uma alegoria a revolução Russa. Podemos identificar os personagens desse momento histórico: Major pode ser Lênin, Napoleão pode ser Stalin e Bola-de-neve como Trotsky. As ovelhas, o povo que repete as propagandas e as grava na cabeça; os cachorros como os fiéis guardar do ditador; o cavalo com seu tapa-olho que só o deixa olhar para frente. E os personagens são sempre substituídos por novos: os antigos ditadores caem e novos tomam o poder. Mas todos têm o mesmo lema, o mesmo pretexto para subir ao poder: querem trazer a igualdade.    

sexta-feira, 9 de março de 2012

Cheiro de páginas novas.

Por Carlos Gabriel F.

Afinal, ninguém vive de anacronismo em tempo integral de vivência literária. Atualizemos nossas estantes:

O “Circo da Noite” propõe-se a iniciar a mágica onde antes não havia nada. É com as tendas listradas de preto e branco que o espetáculo pretende se residir no mais insípido local, onde no seu interior jazem as mais diversas coreografias que de imediato conquistam uma plateia de inúmeros aventureiros: seja de alma ou coração. Vê-se diante de um Labirinto de Nuvens, um Jardim de Gelo e, sobretudo, uma bela contorcionista tatuada a se esgueirar pelas células do próprio corpo a fim de se encaixar nos locais mais inacreditáveis. Não há de se imaginar, entretanto, que por detrás de todo o perceptível, existe um casal que, desde a mais tenra infância, são treinados para o duelo mortífero no qual apenas um sobreviverá. Celia e Marco são os destinados à luta eterna, seja ela física ou romântica. É no meio do encanto e da fascinação que reside o mais novo lançamento de Erin Morgenstern, que está sendo considerado como o Romeu e Julieta da nova era. 

Editora: Intrínseca
Tradução: Claudio Carina
Páginas: 368


Outro lançamento que me chamara a atenção foi a nova brochura de Nádia São Paulo, “O Mistério da Casa na Praia”. É sobre uma família que gosta de mudanças, suas expectativas e consequências. Elizabete, Eduardo e Ana Julia anseiam pela descoberta do inesperado, pela vivência daquilo que, porventura, não tomariam como imaginários seus. O imprevisto da nova casa no belo balneário em Guarapari eram as aparições sobrenaturais, que os levarão ao mistério que circunda toda a história do local. A estória de Nádia promete levar os leitores à ápices de suspense com a trama da família, que pode desembocar na sanidade mental de Elizabete até por em risco a vida da ainda jovem Ana Julia.


Editora: Novo Século
Páginas: 224







Imagine-se reencarnado em um rinoceronte com a consciência do que havia acontecido contigo em vidas passadas; não apenas lapsos de memórias atrasadas ou vivências desesperadas, mas o rolo completo daquilo que sobrevivera enquanto humano numa década retrasada. A ideia ousada é de Catherine Clément, em “Dez Mil Guitarras”. Um brâmane morre em Bengala, na Índia, e é na África que vem a iniciar novamente a sua vida. Quando já acostumado com a sua rotina de lamas e barrancos, o rinoceronte é capturado e levado para Portugal, em um exato reino prestes a entrar em dias de azar. Ao longo da trama, lemos a narração daquilo que o animal – e por que não, alma aprisionada de homem antepassado – escuta e vê, de modo que o livro de Catherine traça uma longa via através dos acontecimentos mundiais, levando-nos desde René Descartes até a rainha Catarina, na Suécia. Aprendemos, sobretudo, por meio da brochura, sobre história política, viajamos nos séculos XVI e XVII. 


Editora: Companhia das Letras
Tradução: Eduardo Brandão
Páginas: 352




quinta-feira, 8 de março de 2012

Sorteio: resultado.


No dia vinte e quatro de fevereiro iniciamos o sorteio que representaria a nossa gratificação pela alta quantidade de acessos que temos recebido, felizmente, ao longo do nosso curto período de existência. Hoje, rufem os tambores, é o dia de presentear àquele que inaugurará as páginas, ainda em branco, de um caderno europeu ainda a ser enviado com carinho.

Participaram apenas aqueles que cumpriram as regras do jogo: curtiram e compartilharam, de fato, a imagem presente na nossa página no Facebook. A partir disto, foi gerada uma lista em que cada um de vocês, leitores, se tornaria um número a fim de ser sorteado. Acatamos o random.org por sua fidelidade em gerar números aleatórios em alto teor de credibilidade. 

De um à trinta e quatro, o número escolhido foi: 

... que nos leva por consequência a:



Sem mais nem menos, anunciamos que a ganhadora é: Elisa Chueiri!
Entraremos em contato com a nossa ganhadora para o envio do caderno Springfield. Sobre aqueles que, infelizmente, não foram contemplados, não se acanhem: mais sorteios estão por vir.

quarta-feira, 7 de março de 2012

x.o.x.o., Gossip Girl.


Por Arthur Franco

Serena, Blair, Chuck, Dan e Nate. Certamente você já ouviu falar em algum deles. Sãos os protagonistas da série Gossip Girl, do canal americano CW. Mas todas as intrigas, os rumores e as fofocas da ‘desconhecida’ gossip girl tem início na literatura. Gossip Girl - As delícias da fofoca, de Cecily von Ziegesar, é o livro que deu origem a todo o sucesso da série americana.

O livro, que é o primeiro de uma coletânea de 13 volumes, conta a história de adolescentes ricos de Nova York com uma vida agitada: muitas compras, festas, álcool e fofocas. Mas no meio disso tudo está a gossip girl, que possui um site onde coloca na internet todos os rumores, boatos e intrigas que cercam os jovens da elite de Nova York. Ninguém sabe quem é a responsável por tanta fofoca, mas ela sempre está por dentro de tudo.    

A história se foca principalmente na vida de Serena van der Woodsen, uma estudante que, depois de ser expulsa de um colégio na Europa, volta a Nova York. Todos, inclusive a gossip girl, só falam da garota e do que ela aprontou para estar de volta. Ao lado de Serena está Blair Waldorf, sua ex melhor amiga. Blair quer perder sua virgindade com Nate Archibald, seu namorado, mas nada corre como a princesinha Waldorf deseja, ainda mais depois de descobrir que Serena havia dormido com Nate. Chuck Bass, um garoto mulherengo e que sempre tem tudo o que quer, completa o núcleo do Upper East Side da trama. 

Fora desse contexto e sempre deslocado em meio aos ‘riquinhos’, se situa Dan Humphrey, aspirante a escritor e perdidamente apaixonado por Serena. Sua irmã, Jenny Humphrey, quer fazer parte da alta sociedade, mesmo não tendo dinheiro ou poder para isso. E Jenny fará de tudo para ser popular, até mesmo se juntar a Blair para tirar Serena do centro das atenções. 

Cecily von Ziegesar se baseou na sua própria adolescência para criar o enredo de ‘Gossip Girl’. A autora foi criada em meio à elite de Nova York e frequentou os melhores colégios da cidade, em meio a muitas festas, intrigas e disputas por popularidade. 

O livro foi considerado um ‘Sex and The City’ (da autora Candace Bushnell) para adolescentes e ganhou noticiabilidade depois que a série foi produzida.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte IV.


Por Carlos  Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Confira a primeira, segunda e terceira!), que comecemos:

Na quarta lista que aqui datamos senti a necessidade de colocar nos holofotes livros que ora ou outra influenciaram naquilo que me equivale enquanto literário. “O Pequeno Príncipe” (1943) de sabe-se lá por quais motivos não se encontrara aqui previamente, foi o meu primeiro livro. Devorei aos bocados pelo computador, de tantas maneiras e de perspectivas tão inovadoras, que ao final da história necessitei voltar num recomeço. Os melhores contos vêm de histórias simples, daquelas que transformam a tamanha simplicidade na escrita em algo estonteantemente magnífico. Lembram-se de Flicts? Acredito que o livro de Antoine se encaixa no mesmo nicho: daqueles de pequenos-para-grandes; dos que à primeira vista parecem inocentes para os infantes, mas que ao final quebram barreiras. Pois bem, é sobre um príncipe que ama a sua rosa de um planeta distante; é sobre enfrentar novas perspectivas e descobrir novas criaturas; é sobre perdão e necessidade de reconquista; é sobre amor e gratidão; é, sobretudo, desculpem-me o clichê, um dos melhores livros que já li.

“As estrelas são todas iluminadas... Será que elas brilham para que cada um possa encontrar a sua?”

Markus Zusak, que será reconhecido pelo seu famigerado romance “A Menina que Roubava Livros” (2006) em terras brasileiras, tem um livro precedente de tamanha primazia para com a minha pessoa quanto o supracitado. “Eu Sou o Mensageiro” (2002) conta a história de Ed Kennedy, taxista, jovem de 19 anos, medíocre e sem futuro, mas que, de algum modo, impedira um assalto – e é este ato que resulta no recebimento de cartas misteriosas que o destinam a indivíduos que, também, necessitam desesperadamente de sua ajuda. A linguagem aqui usada por Zusak é direta, sem eufemismos, diferente da que notamos muitas vezes no seu lançamento futuro. Com um final marcante, Ed nos conduz através de uma trama de busca pela necessidade dos outros personagens; por meio de suas também mágoas o jovem se torna a mensagem para aqueles que necessitavam de apoio.

“O silêncio se aproxima mais ainda, me dá uma porrada e me empurra pra frente.”

 Citar Harry Potter em uma lista de ficção é quase que redundante, não?! Talvez seja por isso prolonguei tanto para me certificar de que algum dia fosse especificado aqui que o primeiro livro de J. K., Harry Potter e a Pedra Filosofal (1997), é um dos que mais aprecio; seja pela descoberta de um menino sobre aquilo que levaria para consigo durante toda a sua vida ou por entender que naquela história me encontraria representado em dias de tristeza social. Temos aqui, como já dito em tantos espaços virtuais, a presença de um garoto que se descobre – entremeado por sua pequena vida em um local físico pequeno – de sangue bruxo e com passagem marcada para uma escola que te ensinaria novas aprendizagens. Mas quem não precisa de amigos nos períodos mais estranhos da vida? É aqui, nessas primeiras páginas de Rowling, que conhecemos o trio Hermione, Rony e Harry; é nesta brochura que também vemos o primeiro mistério a ser resolvido.

“Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre o Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!”

Quem diria, Saramago, quem diria, que seria numa lista de vestibular que te encontraria. Naquela lista de literatura: fora assim que me deparei primeiramente com àquele que considero (por favor, não no passado) o gênio da literatura contemporânea. “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995) foi uma verdadeira paixão. Li sem pré-conceitos já me dados ao longo do ensino médio de que seria um verdadeiro porre. O modo sui generis de Saramago a narrar a uma história me conquistara de imediato: principalmente a criticar a visão supérflua e cega que, muitas das vezes, tratamos os diferentes aspectos da trama social em que vivemos, seja no âmbito político ou até mesmo sentimental. O autor metaforiza em suas páginas este aspecto, utilizando-se de personagens que perdem a visão para uma grande cegueira branca e que, absurdamente, são submetidos a situações desumanas a fim de ter como objetivo único a sobrevivência, perante a incapacidade e impotência. Trata-se de egocentrismo, de necessidade, de abandono, de índole, de amizade e, sobretudo, de ética, bondade e moral sobressalentes. 

“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.”


O livro intermediário entre os já conhecidos “Anjos e Demônios” (2000) e “O Código da Vinci” (2003), “Ponto de Impacto” (2001) retrata o que já esperamos tanto de Dan Brown: o inesperado. Rachel Sexton e Michael Tolland, aqui vistos como personagens principais, são surpreendidos a serem contatados e noticiados de que no grande Ártico havia sido localizado um meteorito que, em seu interior, encontravam-se fósseis – o que provava felizmente a existência de vida extraterrestre. O que aprecio acerta de Dan Brown é a sua capacidade de inserir na trama uma alta quantidade de teorias físicas – muitas das vezes conspiratórias – e a sua capacidade em explaná-las de modo fácil à compreensão. A pesquisa de Rachel e Michael os levarão a grandes descobertas que surpreenderão, certamente, o leitor.

“Chega de falar de peixes - ela interrompeu, com voz sensual, desabotoando seu pijama. - O que você me diz dos rituais de acasalamento de espécies avançadas de primatas?”